Ser conivente é conivir ou coniver?

Chamou a atenção de alguns, no último domingo, a afirmação de uma deputada de que “não iria conivir com a corrupção”. Chamou a atenção, é claro, porque não existe o verbo “conivir” – mas, se qualquer brasileiro ou português que o ouve entende exatamente qual seria o seu significado – “ser conivente com” -, é porque existe uma lógica por detrás do suposto erro.

A lógica é puramente a lógica da língua portuguesa: via de regra, os adjetivos portugueses em “nte” vêm-nos de verbos: crente, de crer, doente, de doer; ouvinte, de ouvir, pedinte, de pedir; presidente, de presidir; atuante, de atuar.

Assim, nada mais lógico que supor que, se existe um adjetivo “conivente”, tão usado e popular na língua, deve existir um verbo que lhe tenha dado origem – que poderia ser “conivir” (a exemplo de presidir/presidente), como supôs a deputada (e como supõem muitos outros falantes, o que justifica inclusive o registro da palavra no Dicionário Informal), ou ainda “coniver” (a exemplo de crer/crente, etc.).

O problema, porém, é que a língua nem sempre é lógica: o adjetivo conivente nos veio direto do adjetivo do latim connivens / conniventis, que por sua vez era, de fato, a forma adjetiva do verbo latino connivere. A questão é que apenas o adjetivo passou ao português – o verbo que lhe deu origem, provavelmente por ser menos usado que o próprio adjetivo, acabou não passando ao português – como não passou ao espanhol.

É na língua francesa que podemos, porém, encontrar uma “encarnação” atual do verbo que dá origem a “conivente”: conniver, também grafado convier, é um verbo que, embora raramente usado em francês contemporâneo, significa precisamente “dissimuler” ou “user de connivence” – como mostra o dicionário da língua francesa de Richelet, de 1775:

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Em português, como já dito, o verbo não chegou a ser criado – ficou no latim. Mas, a continuar o processo de sua “invenção” (ou “ressurreição” – ou, melhor ainda, “reencarnação”) forçada, como se tem visto na linguagem informal brasileira, é provável que no futuro tenhamos oficialmente o verbo “conivir” nos dicionários portugueses, com o sentido de “ser conivente“.

O português dos deputados brasileiros

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Todas as emissoras de televisão brasileiras (bem, exceto uma) passaram as últimas doze horas exibindo ao vivo a sessão em que cada um dos deputados federais brasileiros se manifestou acerca do prosseguimento do processo de impeachment de Dilma Rousseff. As mais de 500 justificativas de votos foram uma verdadeira amostra do que é o português brasileiro contemporâneo real.

Eis uma pequena amostra de termos usados hoje por nossos deputados:

  • essa ladroeira toda“: parece errado? Parece. Mas o deputado estava certíssimo: a palavra “ladroeira” de fato existe – e, como mostra o dicionário Priberam, é de fato um sinônimo de ladroagem e de ladroíce;
  • é um sacripanta“: o deputado acertou; sacripanta (cujo significados são patifeindigno ou falso beato) não tem “s” no singular; a variante “um sacripantas“, que por vezes se ouve, está incorreta;
  • “em nome da indústria fumageira“: para a surpresa de muitos, o adjetivo fumageiro existe: como ensina o Michaelisfumageirofumageira são de fato adjetivos referentes à produção do fumo;
  • um dia paroxístico“:  podia parecer criação de deputado, mas não, a palavra está correta: paroxístico é o que apresenta paroxismos – que, por sua vez, são agonias, ou um ápice, o auge de algo, ou uma crise
  • pelegagem“: condição, estado ou comportamento típico de quem é pelego – que, como ensina o Michaelis e outros, é como se chama no Brasil aos sindicalistas que disfarçadamente trabalham contra os interesses dos demais sindicalizados, em favor do patrão ou do governo – e, por extensão, é termo usado para se referir a todo aquele que é servil aos poderosos;
  • presidenta” e “membra: parece incrível, mas, em 2016, ainda tem quem nos pergunte se existe mesmo a palavra “presidenta” – correto feminino de presidente, como ensinam o Michaelis, o Aurélio, o Houaiss, o professor Pasquale, o Priberam, a FLiP, etc., e que está devidamente registrado em dicionários portugueses desde pelo menos o ano de 1812. Mais aceitável é que ainda nos perguntem se a forma “membra”, mais recente, usada hoje pelo presidente da Câmara dos Deputados, está correta – e a resposta é que também essa está, como se pode ver no Priberam ou no Dicionário Houaiss;
  • os deputados indecisos têm sido tietadoscomo ensina os dicionários, tietar é verbo que se usa só no Brasil, onde significa “ser puxa-saco”, “demonstrar ostensivamente admiração incondicional”;
  • seria fácil tergiversar“: outrora um termo culto e de uso relativamente raro, o verbo “tergiversar” caiu nas graças dos políticos brasileiros, que agora a usam todo o tempo em substituição do popular “enrolar“: ser evasivo, usar de subterfúgios;
  • é um processo inecsorável“: por soar chique, muita gente adora usar a palavra “inexorável”, que significa “incontornável”, “implacável”, etc. O que muitos não sabem é que, na pronúncia padrão, o “x” de inexorável tem em português som de /z/, e não som de /cs/. Escreve-se, sim, inexorável, mas, como em tantas palavras portuguesas (como exatoexaurir), a pronúncia recomendada pelos dicionários é inezorável, e não inecsorável;
  • o que nós vimos onte“: há quem ache que “onte” é um erro de português, mas a verdade é que “onte” (assim mesmo, sem o “m”) está nos dicionários (videHouaiss, o dicionário Aulete, o dicionário Priberam, etc.) como forma histórica do advérbio ontem, usada e registrada desde o século XIII, ainda viva regionalmente;
  • eu não vou conivir com isso“: o suposto verbo “conivir” foi o caso que mais me chamou a atenção, por ser a única das palavras aqui listadas que oficialmente não “existe” – isto é, não está nos dicionários. Ou melhor, está em um: o DicionárioInformalfeito com contribuições diretas da população. O interessante é notar que a lógica da deputada, e de todas as (aparentemente muitas) pessoas que usam a palavra, faz sentido: se existe o adjetivo “conivente“, o “lógico” seria existir um verbo do qual viesse a palavra. O raciocínio é perfeito – a língua portuguesa é que não o é; como toda língua natural e imperfeita, apenas o adjetivo do latim adaptou-se ao português; o verbo latino, do qual o adjetivo se originara, não entrou em nossa língua. Mas, a continuar o processo de sua “invenção” (ou “ressurreição” – ou, melhor ainda, “reencarnação”) forçada, é provável que num futuro tenhamos oficialmente um verbo para “ser conivente” na língua portuguesa. Há que esperar para ver.

“Becape” e “becapear”: existir, existem…

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Um leitor pergunta-nos se existe já um aportuguesamento de back-up, também escrito backup, que em informática se refere ao ato de salvar um cópia extra de arquivos importantes fora do ambiente usual de trabalho, por segurança.

A resposta simples é: sim, existe; o Dicionário Houaiss já traz o substantivo aportuguesado becape. Se repararem, fez-se, nesse caso, analogia com aportuguesamentos criados no século passado, como checape (de check-up ou checkup) e picape (de pick-up ou pickup).

O Dicionário Houaiss foi ainda além e já incluiu, entre suas palavras, os verbos becapar becapear, e até os particípios becapado becapeado.

Mas ainda que estejam no dicionário: precisamos dessas palavras?

Na nossa opinião, não. Como diz a sucinta definição do Houaiss, um becape nada mais é que uma cópia de segurança.

Quitar um carro: uma coisa no Brasil, outra em Portugal

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“Quitar o carro”:  uma expressão corriqueira que põe em evidência o oceano que separa o português do Brasil do português lusitano.

No Brasil, quitar o carro significa pagar de uma vez todas as prestações remanescentes; em outras palavras, quitar um carro (ou um apartamento, etc.), no Brasil, significa pagá-lo.

Já em Portugal, como ensinam o Priberam e a Porto Editora, quitar significa “alterar ou melhorar as características originais (de um veículo ou aparelho)”.

A definição lusitana de quitar (um carro ou eletrônico) é, portanto, equivalente do neologismo brasileiro tunar, que os dicionários brasileiros definem como “praticar alterações mecânicas e/ou estéticas e/ou introduzir alterações e aprimoramentos, com o fito de personalizar ou melhorar o aspecto, desempenho, etc.” de um veículo ou eletrônico.

No Brasil, assim, são chamados carros tunados aqueles que sofrem intervenções mecânicas, eletrônicas ou estéticas (processo chamado, em inglês, tuning), como o rebaixamento da suspensão e a troca de peças e itens – o  que em Portugal qualificaria os chamados carros quitados.

E, do mesmo modo que, no Brasil, quitar só mantém seus sentidos originais (como o de livrar-se de uma dívida), em Portugal tunar só conserva o sentido original da palavra, também registrado em dicionários brasileiros: “andar à toa; vadiar”.

País transgênero? A antiga Chipre está a virar “o Chipre”

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Alguns jornais brasileiros estão neste momento noticiando o sequestro de um avião “no” Chipre. Seguem comentando a reação do governo “do” Chipre e outros comentários concernentes “ao” Chipre.

Tradicionalmente, porém, a língua portuguesa não admite artigo com o nome do país: os dicionários, enciclopédias e órgãos governamentais do Brasil e de Portugal referem-se, como sempre se referiram, “a Chipre”, à ilha “de Chipre”, à República de Chipre…

A Rede Angola, a Agência Cabo-Verdiana de Notícias, a edição brasileira do El País, a DW em português, o Terra, entre outros, corretamente noticiaram o incidente de hoje em Chipre.

Nas “Cartas” do Padre Antônio Vieira já se lia: “O terremoto de Rimini e mais cidades da Romanha se comunicou por debaixo do mar com as ilhas do arquipélago, porque na mesma hora caíram muitos edifícios em Chipre, e se subverteu com mais de setenta mil almas a celebrada ilha de Có, pátria de Hipócrates e Apeles“.

Não há regra previsível que determine se, em português, um nome de país admitirá ou não o artigo definido – o que rege são o próprio uso e a tradição da língua. Assim, diz-se “no Brasil”, mas “em Portugal”. Embora tampouco seja uma regra fixa, são muitos os países-ilhas que rejeitam artigo: diz-se “em Cuba”, “em Malta”, “em Singapura”, “em Nauru”, “em Aruba”… e “em Chipre”.

A língua evolui, é claro – e seria completamente possível que um nome que tradicionalmente não admitisse artigo passasse a aceitá-lo. Porém, dizer “o Chipre” também contraria a história do português porque, tradicionalmente, Chipre sempre se usou como nome feminino, não masculino: quando necessário o uso de artigo, assim, nossos antigos sempre se referiam à “antiga Chipre” (“O Viajante Universal“, 1798), à “bela Chipre”, “a Chipre de hoje, rebelde e explosiva“, etc.

O atual uso de “o” junto a Chipre talvez se explique por eufonia – ou mesmo por uma contaminação pela palavra “Chifre” (usada, por exemplo, em “o Chifre da África”).

O fato é que mesmo em Portugal, já se nota a “mudança de gênero” e a invasão do artigo definido com o nome dessa ilha-país, berço mitológico de Afrodite: na imprensa portuguesa hoje, O Público escreveu “em Chipre“, mas… “do Chipre“; a RTP Notícias usa “em Chipre” na manchete, mas “no Chipre” na reportagem; o Diário de Notícias fala “de Chipre”, mas se lê “o Chipre” no endereço da reportagem.

Em tempos de transgeneridade (palavra que ainda não está em nossos dicionários…), estamos, talvez, diante do primeiro caso de país transgênero.

Feminicídio, deicídio, fordicídio e os vários tipos de assassinato

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Hoje, Dia Internacional da Mulher, completa um ano a promulgação, no Brasil, da lei do feminicídio, que transformou em crime hediondo no país o assassinato de mulher(es) por motivação diretamente relacionada ao seu gênero.

Anos atrás, o presidente Hugo Chávez veio várias vezes a público para denunciar o que seriam planos de oposicionistas de concretizar um magnicídio – o “assassinato de uma pessoa ilustre” – palavra que, embora muitos tenham achado ser uma invencionice do venezuelano, em português até o Dicionário de Caldas Aulete original já registrava (ver aqui).

Embora não registre ainda feminicídio – e aquele que o comete, o feminicida -, o Aurélio registra, além dos óbvios suicídio e homicídio, também os seguintes tipos de assassinato:

  • bispicídio: assassinato de bispo
  • deicídio: assassinato de um deus
  • filicídio: ato de matar o próprio filho
  • gnaticídio: ato de matar o próprio filho (forma menos usada de filicídio)
  • fordicídio: ato de matar uma vaca prenha
  • formicídio: ato de matar formigas
  • fratricídio: ato de matar o próprio irmão
  • gaticídio: ato de mator gato(s)
  • infanticídio: ato de matar criança(s)
  • mariticídio: ato de matar o próprio marido
  • matricídio: ato de matar a própria mãe
  • parricídio: ato de matar o pai, a mãe ou qualquer dos ascendentes
  • regicídio: ato de matar rei ou rainha
  • sororicídio: ato de matar a própria irmã
  • tiranicídio: assassinato de um tirano
  • uxoricídio: ato de matar a própria esposa

‘Chikungunya’, em português: chicungunha – ou catolotolo

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O mosquito transmissor da dengue é um tríplice vetor de doenças ao homem: transmite, além da dengue e da já aqui tão discutida zica (e não Zika), também a chikungunya – cujo correto aportuguesamento é chicungunha.

Por vezes se ouve, em noticiários, a denominação “febre chicungunha” – puro decalque do inglês, onde também a dengue é chamada “Dengue fever“, sem que, só por isso, a tenhamos traduzido como “febre dengue”.

O nome Chikungunya vem da língua maconde, língua bantu da África oriental. O prefixo “chi“, pronunciado “tchi”, indica, em maconde e em outras línguas bantus, tratar-se de coisa (há outros prefixos, por exemplo, para verbos, pessoas, etc.); já a raiz da palavra vem do verbo “kungunyala” (pronunciado “cungunhala”), que significa “ficar contorcido / retorcido” – é o verbo que se usa, por exemplo, para se referir ao estado dos troncos e galhos de árvores que, no período da seca africana, ficam retorcidos. O nome de chikungunya para a doença deve-se à sensação de intensa dor nas juntas por ela causada, com a consequente prostração do doente.

O aportuguesamento chicungunha, que já vem sendo usado pela imprensa brasileira e portuguesa, obedece rigorosamente às regras ortográficas do português, com a substituição do “k” pelo “c” e a manutenção do “ch” com base na etimologia, segundo critérios já abordados (aqui e aqui).

Para os puristas da língua, que podem preferir um termo mais tradicional em português, existe a opção catolotolo – como a doença já era chamada, há anos, no português de Angola. O nome angolano vem do quimbundo: deriva do verbo para “ficar alquebrado” – isto é, fraco, curvado, contorcido. Interessantemente, o nome angolano catolotolo tem, portanto, etimologia análoga à da sua contraparte usada na outra costa da África, chicungunha – embora tenha sido esta, e não aquela, a popularizar-se mundialmente, pela adoção pela língua inglesa.

Também interessante, porém, é o fato de que, embora seja o único dicionário que já registre catolotolo, a Porto Editora não parece, pela definição apresentada, ter ciência de que catolotolo é a mesma doença hoje mais conhecida em Portugal (e no Brasil) como chicungunha.

[Atualização: dias após esta publicação, a Infopédia da Porto Editora incluiu o verbete chicungunha e atualizou o verbete catolotolo com a informação de que pode significar o mesmo que chicungunha.]

Chota é uma coisa, xota é outra

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Logo no início – na secção de ortografia – das boas gramáticas portuguesas, ensina-se que as palavras de origem indígena, árabe ou africana se escrevem com x, e não com ch. Então por que a construção da foto acima, típica de Angola, é chamada chota, com “ch”? É só para não confundirem com a outra «xota»?

Excelente pergunta. Efetivamente, no Brasil, “xota” é a genitália feminina. Já em Angola, uma “chota” é o nome dado a um “espaço circular, coberto de capim e aberto lateralmente” que serve para reuniões formas e informais. Mas, se as boas gramáticas dizem que as palavras africanas se escrevem com “x” (e isso só dizem as boas, já que as ruins nada se arriscam a dizer sobre regras de ortografia), por que chota, palavra de um país africano que é Angola, se escreve com “ch”? Erro? Incongruência?

Nada disso. O fato é que as gramáticas que dizem simplesmente que o “x” se usa nas palavras africanas – e ponto – estão a simplificar muito a coisa. A regra correta – que não se acha em nenhuma gramática dessas de hoje, mas se lê nos bons e velhos tratados de ortografia  (e, é claro, aqui no DicionarioeGramatica.com, como já explicáramos na postagem sobre Marraquexe) – é que em português se usa a letra xis (e não o dígrafo ch) para grafar o som chiado “sh” (/ʃ/, no alfabeto fonético internacional – a consoante fricativa palatoalveolar surda, em termos técnicos) nos aportuguesamentos de palavras de línguas que não usam o nosso alfabeto – o que inclui, portanto, as palavras de origem africana, árabe, hebraica, persa, tupi e turca.

Já o dígrafo “ch” é usado, em aportuguesamentos, para representar o som “tsh” ou “tch” ou “tx” (ou seja: /tʃ/, no alfabeto fonético internacional). É interessante notar que o dígrafo “ch” ainda conserva esse som de “tch” em espanhol, em galego e mesmo, dialetalmente, no português falado em partes de Portugal (por exemplo, partes do Norte) e do Brasil (por exemplo, partes dos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul).

O dígrafo “ch” só representa em aportuguesamentos um som original chiado (/ʃ/) em palavras em que, vindas de línguas que usam o nosso alfabeto, já aparecia o “ch” – como é o caso de palavras vindas do francês (língua em que o som  /ʃ /  se escreve “ch”) e do alemão (em que o som  /ʃ /  se escreve “sch”).

E, voltando à palavra chota: essa palavra angolana, como nos ensina o Dicionário da Porto Editora, vemos que a “chota” dos angolanos vem de tyiota, de uma língua bantu. Isso explica, portanto, a grafia: tyiota só poderia dar “chota”, não “xota”, coerentemente com as regras ortográficas da língua portuguesa – tão pouco lembradas hoje em dia.

Tatuzão, tatuzões

[Título da Pauta]

N’O Globo, lemos que “Com manobra de engenharia, tatuzão cruza trecho alagado”. Na Folha de S.Paulo, lemos que houve um problema quando “uma pedra caiu na câmara do tatuzão“. Em 2013, O Estadão informava que “Pela primeira vez, obra do metrô terá três tatuzões“.

Embora ainda faltem no Aurélio e no Houaiss, tatuzões são, no Brasil, as gigantescas escavadeiras subterrâneas, usada na construção de túneis.

O ClicRBS explica melhor: “Movido a energia elétrica, o Tatuzão é composto por uma roda gigante, que, na parte da frente, corta, tritura e engole o solo em pedaços de até 40 centímetros. Uma vez “deglutidos”, os nacos de terra são enviados, por uma esteira, até a estação de apoio“.

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Não é o ‘ecstasy’ simples êxtase?

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Semana passada, a Priberam destacou como “palavra do dia” metilenodioximetanfetamina – nome em português, contam-nos eles, da droga conhecida em inglês como ecstasy.

Ora, se verdade fosse que precisamos de 26 letras para traduzir a palavrinha inglesa, fariam sentido as projeções pessimistas sobre o futuro da língua portuguesa. Felizmente, não é assim: o anglicismos ecstasy, como é natural, já foi aportuguesada a êxtase há muitos anos.

Em 1995, a Folha de S. Paulo nos ensinava o que era a tal droga “Êxtase“. Em manchete de 2011, informou-nos que a polícia apreendera “LSD e êxtase que seriam vendidos em boates de Minas Gerais”.

Dez anos antes, em 1985, a Revista Visão informava que o êxtase, uma moda (à época) de três anos, era considerado “quase tão fascinante quanto o famoso LSD”.

Em 1997, a Revista Ciência Hoje também alertava sobre a proliferação do êxtase.

O carioca O Globo, também, chama êxtase à droga – como se vê aqui, aqui e aqui.

No portal G1 da Globo.com, lemos que a polícia apreendeu “êxtase, LSD e maconha em Araraquara”, e que uma “droga rara, semelhante ao êxtase, é apreendida em Mato Grosso do Sul”, e, poucos dias atrás, contou-nos que a polícia apreendeu “cocaína e 7,2 kg de êxtase dentro de uma casa” em Guarujá, no litoral paulista.

O aportuguesamento êxtase, para o nome da droga, é usado ainda pelo Jornal do Brasil, pelo Correio do Estado, pelo O Dia, pela Rádio Cultura Foz, pelo Diário Catarinense, pelo Região Noroeste, e pelo O Diário – além de ser usado até em publicação do Centro Brasileira de Informações sobre Drogas, da Universidade Federal de São Paulo.

Pronto: está feito o trabalho para vocês, senhores dicionaristas. Mãos às obras, portanto.