Coringa ou curinga? O certo é curinga ou coringa?

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O certo é coringa ou curinga? A resposta certa é: tanto faz. “Coringa” e “curinga” são sinônimos perfeitos, de acordo com o dicionário Houaiss, com o dicionário Michaelis, com o dicionário Aulete, com o dicionário Priberam, o dicionário Estraviz, etc.

A dupla validade das grafia coringacuringa é antiga – já na décima edição do Dicionário de Moraes apareciam as duas formas – coringa com, entre outros sentidos, o de “carta do baralho, à qual a pessoa que a tem em mão pode dar o valor que deseja“; e curinga como “carta com valor especial em certos jogos“.

Uma pesquisa sobre a questão na Internet, porém, revela dezenas de fontes que repetem à exaustão que a palavra deve ser escrita com “u”, e não com “o”, por vir de kuringa, que, segundo afirmam, significaria “matar” em quimbundo, língua africana. É simplesmente uma lenda urbana mais, um erro cometido (ou inventado) por alguém, que se espalhou e chegou inclusive aos dicionários. A verdade é que a palavra kuringa, que várias fontes dão como fonte do nosso “curinga”, nem mesmo existe em quimbundo, como revela a pesquisa a qualquer dicionário de quimbundo.

A verdade é que, como ocorre com milhares de palavras da nossa língua, nenhum linguista sabe com certeza de onde veio a nossa palavra coringa ou curinga.

Ainda que se soubesse com certeza que a palavra portuguesa tivesse vindo de uma palavra em quimbundo começada por “ku” (em quimbundo o que sim há são os verbos kuria / kudia, comer, matar, enganar, e kurimba, atrapalhar, confundir), isso não implicaria que escrevê-lo em português com “o” estaria errado – se fossem assim, seria então errado escrevermos molequemoqueca com “o”, já que ambos vêm dos termos quimbundos mulekemukeka.

É por essas razões que bons dicionários (como o Houaiss, o Aulete, o Michaelis, o Priberam, o Estraviz, etc.) hoje afirmam que as duas formas, curingacoringa, são corretas e podem ser usadas indistintamente.

Nos quadrinhos e filmes do Batman, por exemplo, o vilão chama-se oficialmente Coringa, com “o” – forma que tem a vantagem de permitir as duas pronúncias existentes: diferentemente da grafia com “u”, que só admitiria uma pronúncia, a grafia com “o” permite pronunciar “coringa” ou “curinga” – do mesmo modo que “mochila” pode ser pronunciada como “muchila“, que “cozinha” pode ser pronunciada “cuzinha“, etc.

“Veredito” ou “veredicto”? Ambos estão corretos

Uma sentença ou decisão definitiva é um veredito ou um veredictoTanto faz. Use a que preferir, pois ambas estão corretas.

Os vocabulários e dicionários brasileiros e portugueses (como o Aurélio, o Aulete e a Academia Brasileira de Letras) aceitam ambas as formas, uma vez que existem ambas as pronúncias (com e sem o “c”). A mais recente edição do Dicionário Houaiss, abaixo, inverte a ordem alfabética e traz a forma “veredito” à frente de “veredicto” – possivelmente pela constatação de que essa é a pronúncia (e, em consequência, a grafia) mais usual:

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Jabuticaba ou jaboticaba? O certo é jaboticaba ou jabuticaba?

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Jabuticaba ou jaboticaba? Quando se quer dizer que algo só acontece no Brasil, diz-se, popularmente, que a coisa é “uma jaboticaba“, em referência à pequena fruta brasileira, em forma de pequenas pelotas escuras, com doce polpa branca. Ou será o certo  dizer uma “jabuticaba”, com “u”? Resposta: tanto faz. As duas formas existem, estão corretas e são sinônimas, segundo os bons dicionários brasileiros, como o Aurélio, o Houaiss e o Michaelis.

A grafia com “u” – jabuticaba – é a mais usada, mas a grafia com “o”, jaboticaba, é mais correta etimologicamente: em tupi, língua da o português recebeu a palavra, a vogal era mesmo um “o”, não um “u”.

Segundo o Houaiss, a palavra pode vir seja de yawotikawa; seja de ïapotïkaba; ou pode ainda ter relação com o nome do animal brasileiro – a tartaruga terrestre chamada jabuti ou jaboti – que, como já vimos, também é, mais corretamente escrito com “o” do que com “u”.

A forma jaboticaba, com “o”, é, ademais, a mais adequada para manter a coerência com os nomes próprios de duas cidades brasileiras – Jaboticaba, no estado do Rio Grande do Sul, e Jaboticabal, no estado de São Paulo – cujos habitantes, respectivamente, são jaboticabenses jaboticabalenses.

A pronúncia, é claro, não muda: jaboticaba pode ser pronunciada, em perfeito português formal, da mesma forma que jabuticaba – do mesmo modo que mochila se pronuncia “muchila”, que costume se pronuncia “custume” ou que sovaco se pronuncia “suvaco”.

 

Siriguela, seriguela? O certo é ciriguela

A pequena frutinha da foto acima, de cor avermelhada e sabor muito doce, vem ganhando popularidade no Brasil nos últimos anos. Mas, embora esteja na boca de cada vez mais brasileiros, pouquíssimos são os que escrevem sem titubear o nome da tal fruta: será siriguela, seriguela, ceriguela ou ciriguela?

Resposta rápida: a forma correta de escrever o nome da fruta é ciriguela, com “ci-“.

A escrita correta (isto é, a ortografia) de uma palavra é definida por sua etimologia (isto é, pela origem da palavra). E o nome dessa fruta, como a própria fruta, nos veio da América  hispanófona, onde a fruta é chamada de ciruela (originalmente, o nome da ameixa em espanhol). A intrusa letra “g“, não etimológica, já apareceu no próprio espanhol (língua em que é normal a aparição dessa letra antes de ditongos começado por “u”), como mostram o uso da variante cirgüela no Méxicoem Honduras, no Equadorna Colômbia, no Chile, etc.

Não há espaço sequer para duplas grafias, portanto: nem seriguela, nem siriguela, nem ceriguela. A única grafia etimologicamente aceitável, em português, é com “ci” como primeira sílaba – o certo é ciriguela, portanto – forma, aliás, já recolhida no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras e nos bons dicionários.