Ajuntar ou juntar? Existe o verbo ajuntar?

Aurelio

Existe a palavra ajuntar? Sim, existe, e está perfeitamente correta. Segundo o dicionário Aurélio e o dicionário Houaiss, ajuntar é um perfeito sinônimo de juntar.

Aurélio dá preferência a ajuntar, remetendo juntar para ajuntar. Já Houaiss remete ajuntar para juntar. Ambos concordam, porém, que os dois verbos existem, são corretos e têm os mesmos significados e regências.

Como mostram o Aurélio e o Houaiss, é absolutamente correto e indiferente, portanto, usar ajuntar  ou juntar:

  • Maria e Pedro juntaram-se (ou ajuntaram-se);
  • Juntou uma última folha ao processo (ou Ajuntou uma folha ao processo);
  • Juntar algo do chão (ou ajuntar algo do chão).

Pela Internet afora há, como sempre, os charlatães inventores de falsos erros, que afirmam que só um dos dois verbos está correto, ou que ajuntar é menos formal ou coloquial, ou que só um dos dois admite algumas regências e o outro só admite outras – todas mentiras. O Houaiss diz enfaticamente: ajuntar é sinônimo de juntar “em todas as suas regências”. Tanto o Houaiss quanto o Aurélio trazem longa lista de exemplos que mostram que grande escritores, portugueses e brasileiros, usam indistintamente ajuntar ou juntar, com diversos significados (adicionar, unir, recolher, pegar do chão, acumular, congregar-se, etc.).

“No aguardo” está errado? Não acredite em tudo que lê na Internet…

“Ficar no aguardo” ou “estar no aguardo” de algo são expressões corretas, autorizadas pelos melhores dicionários (como o Aurélio, o Houaiss, o Michaelis e o Aulete) e gramáticos. Pela Internet circulam, porém, falsos rumores, segundo o qual a expressão “no aguardo” não existe ou é incorreta. Estão errados: a expressão “no aguardo” existe em português há mais de um século e é corretíssima.

A Internet é terreno fértil para notícias falsas – de todos os tipos, inclusive linguísticas. Exemplo disso é a falsa afirmação, espalhada por sites na Internet e postagens em Facebook, de que a expressão “no aguardo” seria errada.

“No aguardo é expressão gramaticalmente correta, e a que registram os dicionários brasileiros desde o século passado. Vide, por exemplo, já na primeira edição do Dicionário Aurélio:

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O Aurélio infelizmente não tem versão gratuita na Internet, mas bastaria conferir algum dos dicionários gratuitos existentes, como o Dicionário Michaelis (aqui) (ou o Priberam, o Aulete ou o da Porto Editora) para encontrar o substantivo aguardo e a consagrada expressão “no aguardo” (fico no aguardoestou no aguardo).

Há também sempre os que charlatães linguísticos que dizem que a palavra até existe, mas apenas como “brasileirismo” – uma deturpação da língua portuguesa feita por brasileiros incultos. Como sempre, errados: o substantivo masculino aguardo já aparecias no século retrasado no dicionário do português Cândido de Figueiredo e no do também português Caldas Aulete, com a indicação de que era palavra que se usava muito na região portuguesa do Alentejo no vocabulário da caça:

aguardo s. m. || espera, permanência. || (Alent.) Lugar onde o caçador espera a caça.

Convém notar que em espanhol também existe o substantivo masculino aguardo, com os mesmos significados (ver aqui).

Entre os charlatães linguísticos, há, por fim, os que dizem que a expressão até pode existir, mas que o certo tem de ser “ao aguardo“, porque se diz “estar à espera”, e não “na espera”.

Mas basta pensar um pouquinho para perceber que também se falar “estar na expectativa de”, etc. Em resumo, não sabem o que dizem. “No aguardo” é corretíssimo.

Regência do verbo “delegar”

Qual é afinal a regência verbal de delegar? O site português Ciberdúvidas afirma (mais de uma vez) que é incorreta a regência “delegar a”, e que o certo seria apenas “delegar em”, mas na vida toda só lembro de ter lido e ouvido “delegar” a reger a preposição “a”…

Pode ficar tranquila, cara consulente: sua intuição está certa, e as referidas respostas no tal site português é que estão erradas. Dicionários como o Houaiss e o Aurélio atestam, para o verbo delegar, a regência com a preposição “a”:

Dicionário Houaiss:
delegar
verbo ( 1391)
( t.d.bit. ) [prep.: a] realizar uma transmissão, concessão de (poderes)    ‹ em meio à crise, ele delegou todos os seus poderes (a uma comissão de emergência) ›

Dicionário Aurélio:
delegar
v.t.d.i. Transmitir poderes; investir na faculdade de obrar: O país delega ao Congresso a decisãoDelegou à comissão poderes especiais.

A regência com “a” é, aliás, a única registrada no primeiro dicionário de português da história – o de Bluteau, publicado em 1712:

Dicionário de Bluteau (1712): “Delegou o Sol sua luz à Lua.”

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De todos modos, embora seja claro que a regência “delegar algo a alguém”, a regência com a preposição “em” (“delegar algo em alguém” – possivelmente influenciada pelo espanhol, língua em que o verbo delegar sempre exige a preposição “en“) também é correta, tendo registra na língua portuguesa desde pelo menos a segunda edição do Dicionário de Moraes e Bluteau, de 1789.

É a regência que se encontra também na Gazeta de Lisboa, que em 1800 afirmava que Bonaparte agia “como se estivesse em Paris, não querendo delegar a outrem parte alguma de sua autoridade“.

Quem mais acerta, portanto, é o Dicionário Michaelis – o único a trazer ambas as regências do verbo: “A nação, pelo órgão dos seus representantes, delega em homens o poder executivoDelegara a chefia ao funcionário mais antigo“.

Diga (e escreva) que algo foi delegado em alguém ou a alguém, portanto – como quiser. Só não erre, supondo que quem usa a outra preposição incorre em erro.