O acento de oxímoro (e não *oximoro): mais um erro do Houaiss

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Oxímoro, ensina o Dicionário da Academia Brasileira de Letras (foto abaixo), é a “figura que consiste na associação de termos contraditórios quanto ao seu significado“. O Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa (foto também abaixo) explica ainda que são exemplos de oxímoros os famosos versos de Camões “Amor é (…) ferida que dói e não se sente / É um contentamento descontente / É dor que desatina sem doer.

É também oxímoro, com acento, a grafia encontrada nos dicionários de Antenor Nascentes, Celso Luft, Estraviz e em todos os dicionários feitos por Aurélio enquanto vivo.

Quem procurar “oxímoro” no Houaiss, porém, só encontrará oximoro, sem acento. Mas o próprio dicionário informa que a palavra vem do grego, língua em que a palavra já era proparoxítona.

Some-se a isso o fato de oxímoro ser a única forma que se ouve nas faculdades de Letras e demais círculos em que de fato se usa a palavra. O Dicionário de usos do português do Brasil, de Francisco Borba, feito com as palavras efetivamente mais usadas no Brasil, colhidas de usos reais por métodos técnicos, também só traz “oxímoro“, acentuada.

É uma grande contradição, portanto, o Houaiss (como outros dicionários, que, recentemente, passaram a não fazer mais que copiar o Houaiss) atestar que a etimologia da palavra indicaria uma pronúncia proparoxítona (e que de longe é a pronúncia mais corrente ), mas ainda assim registrarem a palavra sem nenhum acento.

É um erro mais do Houaiss (e dos dicionários que, desde a publicação do Houaiss, não fazem mais que copiá-lo acriticamente). Como sempre insistimos: o Houaiss é um dos melhores e maiores dicionários já feitos em qualquer país de língua portuguesa, mas, como toda obra dessa magnitude, não pode ser tomada como verdade absoluta, pois tem muitos erros.

Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa:IMG_1355

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Expresso ou espresso? O certo é espresso ou expresso?

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O café é espresso ou expresso? Nos cardápios de cafeterias, é normal encontrar duas grafias diferentes para o tipo de café preparado individualmente sob pressão em máquina elétrica, servido numa xícara pequena – espresso e expresso. Qual forma está correta?

Basicamente, a resposta é que ambas as palavras existem: espresso é a grafia original, em italiano, enquanto expresso é a palavra em português.

Para descrever um navio ou um trem rápido, em português, a única grafia correta é com “x”: expresso.

Já em cafeterias, é normal encontrar a grafia italiana (espresso), usada internacionalmente, do mesmo modo que se usam nesses ambientes várias outras palavras estrangeiras: cappuccino, frappuccino, mocha, macchiatocroissant

Em outras palavras, a diferença entre espresso e expresso é a mesma que entre croissant ou croassã, ou entre crêpe (em francês) e crepe (em português), ou entre hot-dog e cachorro-quente, ou entre mozzarella (em italiano) e mozarela/muçarela (formas aportuguesadas).

Em italiano, espresso é o particípio de esprimere, verbo que pode significar tanto “espremer” quanto “expressar”, de modo que “espresso“, em italiano, pode significar tanto espremido quanto exprimido, expressado ou expresso. Os italianos batizaram esse tipo de café de espresso justamente por ser ele feito sob pressão, sendo espremido/pressurizado em sua elaboração.

Há quem defenda exclusivamente o uso da grafia italiana (“espresso“) sob o argumento de que a palavra portuguesa “expresso” tem outro significado, o de feito rapidamente, às pressas. Embora a palavra portuguesa de fato tenha também esse sentido, a verdade é que, como muitas palavras, expresso tem vários significados distintos em português, e um deles (incluído em dicionários brasileiros, como o Houaiss, e portugueses, como o Priberam) é justamente o de café feito sob pressão.

Ou seja: tanto é correto chamar o café de expresso (forma aportuguesada) quanto usar a forma original (italiana) “espressoÉ questão de gosto.

O plural dos nomes compostos

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Sabemos que, em português, os nomes sempre têm plural, tanto os prenomes quanto os sobrenomes. Mas como se faz o plural de prenomes compostos, ou de sobrenomes compostos?

Com base no uso de nossos melhores escritores e as recomendações de nossos bons gramáticos, as regras que se observam para a formação do plural de nomes compostos são:

  • Se o composto inclui a preposição “de” (do, das, dos, das), só se pluraliza o que vem antes dela: as Marias do Carmodois Ataídes de Azevedo; os de Sá Ribeiroos Limas de Azevedo; os Paes de Andrade; as Joanas d’Arc; muitos Vascos da Gama.
  • Se o composto é ligado por “e“, só se pluraliza o que vem após o “e“: os membros da família “Sousa e Silva” são “os Sousa e Silvas“.

Nos casos de compostos sem elemento de ligação entre os nomes, o uso dos autores clássicos variava entre as duas possibilidades que a gramática oferece:

  • Pluralizam-se ambos os nomes: as Marias Quitérias; os Pedros Paulos; os Castros Alves; os Ruys Barbosas; os Pedros Arcanjosos Zés Marias; os Pedros Miguéis; os Miguéis Ângelos; ou:
  • O composto é tratado como uma unidade, pluralizando-se apenas o segundo elemento: as Maria Quitériasos Ruy Barbosasos Joaquim Nabucosos Pedro Paulos; os Castro Alves; os Ruy Barbosasos Pedro Arcanjosos Zé Marias; os Pedro Miguéisos Miguel Ângelos.

 

Em português, os sobrenomes têm plural

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Diferentemente do que diz o jornal Diário de Notícias, não foi a cadela dos Obama que mordeu uma visitante na Casa Branca – foi a cadela dos Obamas.

Em português, os nomes, inclusive os nomes de família (sobrenomes), sempre tiveram plural como qualquer substantivo da língua portuguesa: uma das obras-primas de Eça de Queiroz (por muitos considerado o maior escritos português) foi aquela chamada “Os Maias” (e não *Os Maia); os membros daquela família imperial eram os Braganças, e não *os Bragança; e uma das famílias mais conhecidas da televisão mundial é a dos Simpsons (e não *os Simpson).

Assim, não há por que falar em “os Obama“, “dos Obama” – o certo é “os Obamas“, “dos Obamas“.

Os nomes próprios (tanto prenomes quanto sobrenomes) portugueses seguem as mesmas regras de formação dos substantivos comuns: o Raul, os Rauiso Benjamim, os Benjamins; o Cabral, os Cabraisa Ester, as Esteres; o Mateus, os Mateusa Raquel, as Raquéiso Rafael, os Rafaéis.

Já os nomes estrangeiros normalmente recebem plural, em português, pela adição de um “s”: os Amins, os Bismarcks, os Clintons, os Husseins, os Isaacs, os Kennedys, os Kirchners, os Lafers, os Medvedevs, os Müllers, os Rousseffs, os Sarkozys – com a exceção daqueles já terminados em “s” ou “z”, que permanecem invariáveis: os Chávez (como os Chaves), etc.

“Estão melhor” ou “estão melhores”?

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Será que o jornal acima traduziu corretamente o que disse Obama? Terá dito ele que “os EUA estão melhores do que há oito anos” ou que “os EUA estão melhor do que há oito anos“?

Existe o adjetivomelhor“, que significa “mais bom” e tem plural (melhor amigo, melhores amigos); e existe o advérbio “melhor”, que significa “mais bem” e que, como todo advérbio, não tem plural.

Estaria perfeitamente correta, portanto, a frase “Os Estados Unidos estão melhor do que há oito anos” (isto é, os EUA estão “mais bem” do que estavam oito anos atrás). O que provavelmente ocorreu foi que quem fez a tradução cometeu uma hipercorreção: tentou corrigir algo que já estava certo, por achar que estava errado.

Do jeito que saiu no jornal, a frase (“Os EUA estão melhores do que há oito anos“) acabou significando que os “EUA estão ‘mais bons’ do que há oito anos” – não se pode dizer que esteja errada, mas definitivamente a forma sem o plural (“os EUA estão melhor“) era, além de mais natural, a mais apropriada no caso.

Ipuiuna ou Ipuiúna? A grafia de Ipuiuna, Minas Gerais

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Ipuiuna ou Ipuiúna? Um leitor mineiro pergunta se o nome da cidade de Ipuiuna, em Minas Gerais, deve ser escrito com ou sem acento agudo. Diz que, nos seus dicionários (Aurélio e Houaiss), encontra, no verbete ipuiunense, o nome acentuado (Ipuíuna), mas que não concorda com a necessidade desse acento.

O leitor está correto: Ipuiuna não leva acento. A grafia Ipuiúna, com acento, é a grafia antiga – até o Acordo Ortográfico atual entrar em vigor, era acentuado, no Brasil, o “u” tônico seguido de ditongo: feiúra, baiúcaBocaiúva, etc., que, na nova ortografia, se escrevem feiurabaiucaBocaiuva, sem acento. Foi uma boa mudança da reforma ortográfica – não havia necessidade daqueles acentos.

Como a mudança é relativamente recente, ainda se encontra de vez em quando a grafia antiga (Ipuiúna), mas cada vez menos. Os jornais e órgãos públicos ipuiunenses já usam a forma sem acento, Ipuiuna (fora alguns resquícios de conteúdos antigos).

O Houaiss em papel, de fato, ainda traz Ipuiúna com acento, erradamente; mas a versão eletrônica do Houaiss, atualizada na Internet, já traz a forma correta:

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O fato de mesmo dicionários de renome como o Aurélio e o Houaiss trazerem o nome de uma cidade escrito errado não deveria surpreender: em diferentes textos anteriores aqui na página, tratamos de casos de cidades cujos nomes vêm escritos de forma errada nos principais dicionários brasileiros – Bagé, Lages, Joinville, Chuí, Mogi das Cruzes, ParatyMassaranduba, Pirassununga, etc. Foi por essa razão que criamos a página Dicionário de gentílicos brasileiros, feita para ser o que até então não havia – uma fonte confiável dos nomes de cidades brasileiros e seus gentílicos, devidamente verificados e confirmados mediante fontes oficiais.

E a página tem dado resultado: desde a publicação deste texto, do ano passado, em que apontamos grafias erradas constantes dos principais dicionários brasileiros, o dicionário Houaiss já fez a correção, em sua versão eletrônica, de quase todas essas formas que estavam escritas incorretamente e que haviam sido apontadas aqui na página (Bagé, Lages, Joinville, Chuí, Mogi das Cruzes, Paraty, Massaranduba, Pirassununga)… além da já mencionada Ipuiuna.

A expressão “no aguardo” está correta? Existe “aguardo”? (Claro que sim.)

“Ficar no aguardo” e “estar no aguardo” são expressões corretas, existentes em português desde o século retrasado e autorizadas pelos melhores dicionários (como o Aurélio, o Houaiss, o Michaelis e o Aulete) e gramáticos da nossa língua.

Pela Internet circulam, porém, falsos rumores, segundo os quais a expressão “no aguardonão existe ou é incorreta. Estão errados: a expressão “no aguardo” existe em português desde o século retrasado e é corretíssima.

Veja-se, por exemplo, já a primeira edição do Dicionário Aurélio:

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O Aurélio infelizmente não tem versão gratuita na Internet, mas bastaria conferir algum dos dicionários gratuitos existentes, como o Dicionário Michaelis (aqui) (ou o Priberam, o Aulete, o da Porto Editora, etc.) para encontrar o substantivo aguardo e a consagrada expressão “no aguardo” (fico no aguardoestou no aguardo).

Há também sempre os que charlatães linguísticos que dizem que a palavra até existe, mas que é “apenas” um “brasileirismo” – uma deturpação da língua portuguesa feita por brasileiros incultos. Como sempre, errados: o substantivo masculino aguardo já aparecia no século retrasado no dicionário do português Cândido de Figueiredo e no dicionário do também português Caldas Aulete, com a indicação de que era palavra que se usava muito na região portuguesa do Alentejo no vocabulário da caça:

aguardo s. m. || espera, permanência. || (Alent.) Lugar onde o caçador espera a caça.

Dicionário Aulete, versão portuguesa

O  mesmo já se via, aliás, no dicionário de Moraes:

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Convém notar que em espanhol também existe o substantivo masculino aguardo, com os mesmos significados (ver aqui).

Entre os charlatães linguísticos, há, por fim, os que dizem que a expressão até pode existir, mas que o certo tem de ser “ao aguardo“, porque se diz “estar à espera”, e não “na espera”.

Mas basta pensar um pouquinho para perceber que também se falar “estar na expectativa de”, etc.

Em conclusão: é correto e antiga em português o substantivo aguardo, em português, com o sentido de espera, e também a expressão no aguardo é absolutamente correta.

Concertina, um tipo de acordeão

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A concertina é um tipo de acordeão menor e com forma de hexágono ou octógono. É instrumento musical com papel relevante na tradição musical de vários países – Alemanha, Reino Unido, Portugal, partes do Brasil (sobretudo o estado do Espírito Santo), Argentina (onde deu origem ao bandoneón), etc.

Mas a linda concertina da foto acima não é uma concertina para os nossos principais dicionários: para os brasileiros Houaiss, Aulete e Michaelis e para os portugueses Priberam e Porto Editora, uma concertina tem de obrigatoriamente ter formato hexagonal. Errados, todos eles.

Quem se salva são o Aurélio (que nada fala do formato da concertina) e o Estraviz (“Instrumento musical de fole e palheta livre, de caixa poligonal, do grupo dos acordeões“).

Em espanhol, a Real Academia também acerta: “concertina: acordeón de forma hexagonal u octogonal“.

Apenas em português, concertinas são também as espirais do arame farpado, como as da foto a seguir:

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Sediar ou sedear? A diferença entre sediado e sedeado

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O certo é sediar ou sedear? Diz-se sedeado ou sediado?

Até existe o verbo “sedear“, com “e”: é um verbo antigo cujo significado é limpar ou lustrar com seda, ou com escova de seda, etc.

O verbo que se usa com o sentido de receber um evento, hospedar, ser sede (séde) de algo é sediar, com “i”, como sabemos todos (e como ensinam todos os dicionários portugueses e brasileiros). Sabemos todos, exceto alguns dos criadores de caso de sempre (por exemplo, aqui e aqui), que dizem que, se vem da palavra sede, o verbo deveria ser sedear (e o adjetivo, sedeado), e não sediar/sediado.

A “lógica” é simplesmente furada: existe em português a produtivíssima terminação “-iar”, que faz que, de chefe, se tenha criado o verbo chefiar (não *chefear); de lume, o verbo alumiar; de abade, o verbo abadiar; de judeu, o verbo judiar; de apreçoapreciar; de presençapresenciar, etc.

E, para variar, além de precisarem corrigir todos os dicionários brasileiros, portugueses (e até galegos), os sabichões precisariam corrigir a história da língua portuguesa: ao menos desde a década de 1930 se encontram exemplos de sediarsediado em decretos e textos oficiais – como o decreto-lei brasileiro 457, de 1938, pelo qual o então presidente Getúlio Vargas autorizou a doação de fazendas, a fim de “nelas sediar o novo quartel das forças federais“, ou o Boletim de 1934 do Ministério da Agricultura, que se referia aos “encarregados de postos sediados em zonas de caça“.

“Através” só se pode usar em sentido literal? O que de fato dizem as gramáticas:

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As melhores gramáticas da língua portuguesa usam “através de” como expressão perfeitamente sinônima de “por meio de“, tanto em sentido literal quanto figurado. Igualmente o fazem os melhores e mais clássicos autores portugueses e brasileiros.

Recentemente, porém, charlatães linguísticos começaram a espalhar a falsa lenda de que a palavra “através” só poderia ser usada em sentido literal. Mentira.

Como já vimos anteriormente, o que não falta na Internet são charlatães da língua, inventores de (falsos) erros de português. Um desses falsos erros que se acha fácil pela Internet é o de que a palavra “através” não poderia ser usada em sentido figurado. Em vez de obter algo “através” de uma ação, dizem os charlatães, o certo seria dizer que se obteve algo “por meio de” uma ação – ou “por intermédio de“, “mediante“, etc. Segundo a tal lenda, só se poderia usar “através” em sentido físico.

Se a tal lenda – que não tem nenhum embasamento gramatical, linguístico, etimológico ou histórico – fosse verdade, “através” seria a única palavra da língua portuguesa que não poderia ser usada em sentido figurado, apenas literal.

É uma invencionice, um falso erro (inventado). Todos os melhores autores e os melhores gramáticos do Brasil e de Portugal usam “através de” com o sentido figurado de “por meio de“, e sempre o fizeram.

Aurélio e Houaiss (e todos os demais dicionários) são inequívocos: “através (de)” é um sinônimo perfeito de “por meio (de)”, “por intermédio (de)” – e dão exemplos: “educar através de exemplos” (Houaiss); “Foi sempre o mesmo homem honesto, através de anos e anos” (Aurélio).

Os gramáticos de verdade (Evanildo Bechara, Celso Cunha, Celso Luft) não apenas nada dizem proibindo o uso da expressão, mas a usam repetidamente ao longo de suas gramáticas, exatamente do modo que a tal lenda urbana diz ser errado. Como se vê na célebre Moderna Gramática Portuguesa, de Evanildo Bechara (2015), imortal da Academia Brasileira de Letras:

Pág. 71: “Em português, como em muitas outras línguas, nota-se uma tendência para evitar o hiato, através da ditongação ou da crase.

Pág. 77: “O sossego do vento ou o barulho ensurdecedor do mar ganham maior vivacidade através da aliteração, nos seguintes versos

Pág. 140: “surgem muitas dúvidas no uso do plural, além de alterações que se deram através da história da língua

Pág. 191: “O tipo “zero determinação” antes do substantivo seguido de “o mais” é menos enfático, e se valoriza através de uma inversão (o mais alto homem)”.

Pág. 457: “Grande é o número de radicais gregos que encontramos no vocabulário português. Muitos deles nos chegaram através do latim e são antiquíssimos.

 

Da mesma forma, na célebre Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra:

Pág. 18: “É só a partir do seculo IX que podemos atestar a sua existência através de palavras que se colhem em textos de latim bárbaro

Pág. 152: “No primeiro exemplo, o pronome está relacionado com o substantivo por meio da preposição ‘por’; no segundo, o substantivo relaciona-se com o adjetivo através da preposição ‘de’.”

Nem mesmo aquele tradicionalmente considerado o mais conservador gramático brasileiro do século passado, Napoleão Mendes de Almeida, condenava esse uso que algumas pessoas por ignorância pretendem proibir:

“Não se deve cair no exagero de julgar que a locução “através de” só é possível quando significa “de um lado para o outro”, “de lado a lado”. Não vemos erro em: “A palavra veio-nos através do francês”, como não vemos na passagem de Herculano: “Através desses lábios inocentes murmuram durante alguns instantes as orações submissas””  (Napoleão Mendes de Almeida, Dicionário de questões vernáculas, 1981, pág. 33)

Ou seja: não tem embasamento gramatical a falsa crença de que só se deva usar “através de” em sentidos físicos ou literais. Quem afirma isso está repercutindo mais uma “lenda urbana” sem fundamento.