A crase: rumo ao desaparecimento no Brasil?

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Na campanha a prefeito da maior cidade do Brasil, o candidato em primeiro lugar nas pesquisas publica que está “rumo a vitória” (sic); o atual prefeito, em busca da reeleição, afirma estar “rumo a virada” (sic). Nos dois casos, o certo seria”rumo à“, com crase – afinal, há ali dois “aa”: o “a” preposição e o “a” artigo.

E, embora sejam erros de português do tipo que não se cometem em Portugal, quase ninguém no Brasil parece se importar com esses lapsos. Tem explicação? Tem, sim. A verdade é que a qualquer português chamaria a atenção um erro desses porque, lá, o erro não seria simplesmente ortográfico: para os portugueses, “a”, sem acento, e “à”, acentuado, pronunciam-se diferentemente.

Além das várias vogais que temos em comum (ê fechado, é aberto, ô fechado, ó aberto, etc.), os portugueses têm um “a” átono, que para eles é tão diferente do á tônico quanto ó é diferente de ô. Como os portugueses fazem a diferença na pronúncia, marcam a diferença na escrita – com facilidade e sem precisar pensar se há ali uma preposição somada a um artigo, etc.

Como no Brasil essa diferença de pronúncia há séculos desapareceu, e a diferença entre “à” e “a” passou a ser puramente gráfica, é cada vez mais comum que, mesmo entre brasileiros escolarizados e cultos, confundam-se os usos de “à” e “a”.

E confundem-se mesmo: quase tão comum quanto escrever “a” em lugar de “à” é hoje, no Brasil, o contrário: por hipercorreção, escrevem “à” quando se devia escrever “a” – como se vê, por exemplo, nas muitas placas de trânsito em que se usa, erradamente, “à” antes de números ou nomes de cidades (“Bem-vindo à São Paulo“, etc.).

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Quem nasce em Bornéu é… bornéu

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No tabuleiro do jogo de estratégia, lê-se “Borneo“. Esqueceram-se de traduzir: Borneo é inglês; em português, o nome da ilha é Bornéu.

E quem nasce na ilha de Bornéu também se chama bornéu – os nascidos em Bornéu são os bornéus. E atenção: essas palavras não perderam o acento na reforma ortográfica.

Se foi feio o erro da fabricante do jogo, mais feio ainda é o erro de um bom dicionário, que simplesmente meteu um “o” no fim da palavra inglesa Bornean e inventou *borneano como se isso fosse português. Não: o gentílico (adjetivo pátrio) da ilha de Bornéu em português sempre foi bornéu – como se lê em bons dicionários, e como já se lia no mais que centenário dicionário de Cândido de Figueiredo – que cita que a palavra já era usada na Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto (1509-1583).

Caiçara (habitante do litoral) se escreve com “ç”, porque vem do tupi

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Caiçaras são praianos, membros de comunidades pesqueiras tradicionais. O termo “caiçara” é usado para designar os habitantes tradicionais dos litorais dos estados de São Paulo, do Rio de Janeiro e do Paraná.

Na definição de Houaiss, é o “habitante do litoral, que vive de modo rústico, especialmente da pesca ou de atividade próxima” ou, em sentido mais geral, “natural ou habitante de localidade litorânea; praiano“.

A palavra caiçara, proveniente do tupi (língua em que originalmente significava o tipo de cerca ou paliçada construído por esses habitantes), escreve-se, naturalmente, com “ç”, e não caissara – pelo mesmo motivo pelo qual o palmito é “juçara”, e não “jussara”: por convenção ortográfica, é sempre o cê-cedilha, e nunca os dois “ss”, que se usa em palavras portuguesas de origem tupi. É o mesmo caso de paçoca, açaí, cupuaçu, Iguaçu…

Xeica é o feminino de xeique ou xeque

sem-tituloO feminino de xeique (ou xeque) é xeica.

Anos atrás, os portugueses noticiavam a visita da sheikha” do Kuwait a Portugal. Corretíssimo o uso do feminino, já que nenhum dicionário admite “xeique” ou “xeque” como substantivo de dois gêneros. O feminino já vem do árabe, e mesmo o inglês, língua que em geral não faz distinção de gênero nos cargos, usa a forma feminina sheikha.

Mas em português, é claro, deve escrever-se xeica – forma usada pela imprensa e pelo governo brasileiro, e perfeita do ponto de vista ortográfico, e que já consta do Dicionário Houaiss:

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Cunilíngua (‘cunilingus’) e cunete são coisas diferentes

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Um leitor diz-se surpreso por ter apenas agora descoberto que cunilíngua (ou o seu equivalente em latim, também usado em inglês, cunilingus) se refere à prática do sexo oral na genitália feminina, e não no ânus, como sempre pensara.

Cunilíngua = língua no cu”, pensava ele. Faria sentido, mas a etimologia explica: o prefixo “cuni” de cunilingus não se referia o moderno “cu” (ânus); em latim, cunnus significava vulva, as partes externas da genitália feminina. É dessa palavra latina que surgiram as formas atuais conocona, que caíram em desuso no Brasil, mas que ainda significam vulva, como os dicionários podem atestar. Seus cognatos em espanhol (coño) e em italiano (conno) ainda são bastante usados para se referir à genitália feminina. Em Portugal e na Galiza, também ainda se usam cona e cono com esse sentido.

Para se referir à estimulação oral do ânus há outra palavra, muito mais recente – esta sim formada diretamente do elemento vulgar moderno “cu“: cunete, substantivo masculino, é um nome para a prática de estímulo oral no ânus.

Outros sinônimos para cunete (estimulação oral do ânus) são carocha e, em Portugal, botão de rosa (tradução do nome da prática em francês, fleur de rose).

Já um sinônimo de cunilíngua (estimulação oral da vulva), em Portugal, é minete – aportuguesamento do francês minet, que significa “gatinho”, provavelmente em referência ao uso da língua que fazem esses animais.

O sobrenome de Ban Ki-moon é “Ban”, e não “Ki-moon”

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Um erro feio que a imprensa brasileira de vez em quando comete é referir-se ao secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, como simplesmente “Ki-moon”, achando ser esse o sobrenome do dirigente. Amadorismo puro: nos nomes coreanos (como nos nomes chineses), o sobrenome vem na frente do nome, e é o sobrenome que deve ser usado, quando não se quer usar o nome completo.

Toda a imprensa estrangeira, assim como os artigos brasileiros escritos com cuidado, refere-se ao secretário-geral por seu sobrenome: “Presidente do Irã irá a reunião da ONU sobre desarmamento, diz Ban“; “Ban afirma que parceria entre ONU e União Europeia é profunda“, etc. Chamar Ban de “Ki-moon” em uma manchete equivaleria a escrever, em vez de “Hollande telefonou a Sarkozy“, “François telefonou a Nicolas“; ou a referir-se aos dois ex-presidentes dos EUA como “Barack” e “George“; ou, ainda, a escrever que “Luiz derrotou José e Geraldo nas eleições presidenciais de 2002 e 2006“.

É por essa mesma razão que a forma abreviado pela qual a imprensa se refere ao ditador norte-coreano é “Kim”, e nunca “Jong-un”; ou por que os dirigentes chineses são chamados “Mao”, “Hu”, “Xin” (e não “Jintao”, “Jinping”, etc.).

A pronúncia de extinguir, extingue, extinguiu…

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De acordo com a norma culta tradicional, não se pronuncia o “u” do verbo extinguir e de suas formas conjugadas (extinguiu, extinguimos, extinguiram, extinguem, extinguidos, extinguiria, etc.). Em todas essas palavras, o “u” é mudo.

Há algumas palavras que admitem dupla pronúncia – como “liquidar” e “liquidificador”, em que o “u” pode ou não ser pronunciado. Já o verbo “extinguir” não é desse tipo: os vocabulários e dicionários brasileiros e portugueses são unânimes ao dizer que a única pronúncia admitida na normal culta é com “u” mudo.

Se esse “u” fosse pronunciado, o verbo e seus derivados se escreveriam, até a recente reforma ortográfica, com trema – mas, precisamente porque esse “u” é mudo, não se escrevia “extingüir”, “extingüem”, “extingüiu”, “extingüível”, etc., mas sim extinguir, extinguem, extinguiu, extinguível – todos com “u” mudo.

Myanmar, em português; quem nasce em Myanmar é myanmarense

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Já vimos em texto anterior que o país que antigamente se chamava Birmânia (em inglês, Burma) mudou de nome há alguns anos para Myanmar. A língua oficial de Myanmar é o birmanês, mas nem todos os myanmarenses pertencem à etnia birmanesa.


Pelos motivos que vimos em texto anterior (ver aqui), devemos escrever Myanmar mesmo em português – não há motivo para tentar aportuguesar nomes de países novos (para, por exemplo, tirar dali aquele “y” que incomoda alguns puristas). Em primeiro lugar porque o novo Acordo Ortográfico expressamente recomenda o uso das letras “k”, “w” e “y”, bem como sequências gráficas estranhas ao português (como “nm”), em nomes próprios estrangeiros e em seus derivados. Em segundo lugar porque a “não invenção” de novas traduções para nomes estrangeiros é a recomendação internacional, reiteradamente expressa em resoluções das Nações Unidas, com o aval dos países membros (como Brasil e Portugal).

(O “y” de “Myanmar” soa como o nosso “i” mesmo – tanto em birmanês quanto em português, inglês, etc.; e não como “ai”).

Há, porém, os puristas da língua que, contrariamente às resoluções da ONU sobre nomes geográficos e a despeito do próprio Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (que reintroduziu o k, o w e o y justamente para a escrita, em português, de nomes estrangeiros), querem sempre a todo custo substituir na escrita “y” por “i”, sob a ilusão de que, com essa simples mudança, estariam “aportuguesando” um nome.

Os defensores de uma grafia como Mianmar, porém, revelam certa ignorância, pois não é simplesmente trocando “y” por  “i” que se aportuguesa um nome: a letra “y”, no fim das contas, é até menos estranha a palavras aportuguesadas do que a sequência “-nm-“, que não ocorre em português.

Um eventual aportuguesamento do nome Myanmar teria de substituir também essa sequência consonantal – escrevendo-se “Miãmar”, por exemplo. Já Mianmar é simplesmente um aportuguesamento capenga, feito pela metade.

O governo brasileiro, por sua vez, publicou em janeiro de 2015 decisão em que reconheceu “o Ministério das Relações Exteriores como instituição responsável por pronunciar-se em caráter definitivo sobre as questões envolvendo nomes geográficos de países” – e o Ministério das Relações Exteriores do Brasil usa oficialmente a grafia “Myanmar“.

Myanmar é também a forma usada oficialmente pelo governo de Portugal.

O adjetivo pátrio myanmarense deve também ser escrito com “y”, exatamente como o nome do país. É o que diz também expressamente o novo Acordo Ortográfico, que pôs fim à regra das normas ortográficas anteriores de “aportuguesar” os derivados de nomes próprios estrangeiros. É por essa razão que o que antigamente se escrevia “taiuanês“, por exemplo, agora se escreve taiwanês (quem nasce em Taiwan). Assim, do mesmo modo que, segundo o Acordo, quem nasce no Kuwait é kuwaitiano e quem nasce no Malawi é malawiano, quem nasce em Myanmar só pode ser myanmarense.

Aportuguesamentos: traduzir ou não nomes de cidades e localidades estrangeiras?

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Uruguay“, em português, escreve-se Uruguai; a cidade italiana de “Firenze” em português chama-se Florença; e Alemanha e Berlim são os aportuguesamentos de “Deutschland” e “Berlin“. Mas como escrever, em um texto formal em português, Myanmar? Malawi? Bangladesh?

Muitas pessoas sentem-se inseguras quando precisam escrever em português nomes de países e cidades estrangeiras que não têm uma tradução conhecida em português. A resposta, nesses casos, é: nunca inventar traduções e aportuguesamentos.

Diferentemente das regras ortográficas anteriores, o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa expressamente autoriza o uso das letras “k”, “w”, “y” e de quaisquer combinações gráficas incomuns no português (como “sh”) na escrita de nomes próprios estrangeiros e de seus derivados. O próprio Acordo dá como exemplos Kuwait Malawi, que devem ser assim escritos, e cujos adjetivos pátrios são kuwaitianomalawiano.

O Acordo determina ainda que, “em congruência com” a reinserção das letras “k”, “w”, “y” no alfabeto português, a serem usados em nomes próprios (de pessoas e lugares) de origem estrangeira e em seus derivados, “mantêm-se nos vocábulos derivados eruditamente de nomes próprios estrangeiros quaisquer combinações gráficas ou sinais diacríticos não peculiares à nossa escrita que figurem nesses nomes”, dando como exemplos “comtista”, “garrettiano”, “jeffersônia”, “mülleriano” e “shakespeariano”.

Essa solução, de um lado, evita o antigo problema de como aportuguesar nomes estrangeiros: um verdadeiro problema, porque, se a solução a ser dada em alguns casos é óbvia (como Jakarta = Jacarta), em outros há inúmeras possibilidades concorrentes, muitas das quais a tal ponto deformadoras que dificultam a identificação do nome original: pense-se nos casos de Bangladesh, Kinshasa, Liechtenstein, Washington, Ottawa ou do próprio Kuwait.

(Especificamente sobre o Kuwait: antes dos tempos do Acordo Ortográfico, quando os puristas entendiam que, se o alfabeto português não tinha as letras “k”, “w” e “y”, puristas perderam tempo precioso imaginando – e defendendo – soluções das mais diversas: Cuvaite, Coveite, Kuait [porque aparentemente, para alguns, o “w” choca mais do que o “K”], Cuaite, Cuuaite, Quaite… O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa veio pôr fim ao dilema, ao estabelecer que Kuwait, em português, é Kuwait.)

De outro lado, essa mudança na normativa oficial da língua portuguesa apenas reflete um entendimento multilateral acerca do tema: desde a década de 1970, a ONU (Organização das Nações Unidas) realiza periodicamente as Conferências das Nações Unidas para a Padronização de Nomes Geográficos (United Nations Conferences on the Standardization of Geographical Names – UNCSGN), nas quais, ouvidos especialistas e técnicos da área da toponímia (a ciência que estuda dos nomes geográficos) de todo o mundo, os países membros da ONU aprovaram resoluções que reconhecem os inconvenientes causados pelo grande número de traduções de nomes geográficos.

Por resoluções aprovadas no contexto da ONU, os países membros da ONU – inclusive Brasil, Portugal e demais países lusófonos – comprometeram-se a restringir o uso de traduções (“aportuguesamentos”, no nosso caso) apenas aos casos de longa tradição e uso corrente e a, ademais, não criarem nem inventarem novas traduções para países ou localidades que viessem a surgir ou que não tivessem tradução tradicional e em uso.

É o que determina, por exemplo, a bastante direta resolução III/17 da Conferências das Nações Unidas para a Padronização de Nomes Geográficos:

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Pela resolução, os países membros da ONU, “reconhecendo ser desejável evitar a criação de novos exônimos” (isto é, traduções de nomes próprios de países, cidades e demais localidades), “recomenda que cada país use na sua língua, para novos países independentes, e para países que adotem novos nomes, até onde for possível, o nome oficial local usado pelo próprio país“.

É por essa razão que em português – do mesmo modo que em inglês, francês, espanhol, italiano, etc. – se têm, nas últimas décadas, adotado nas formas originais (sem tradução) nomes como Bangladesh, Kiribati, Kosovo, Ilhas Cook, Ilhas Marshall, Malawi, Myanmar, Sri Lanka, etc.

Também em consonância com as resoluções internacionais sobre o tema, com  a prática internacional e com o uso majoritário, mesmo as obras de referência (como dicionários e enciclopédias) têm substituído formas aportuguesadas que caíram em desuso pela forma original – como no caso de Dublin, capital da Irlanda, que os dicionários antigos traziam aportuguesada como “Dublim“.

E o que se percebe é que nem o português nem língua alguma sai prejudicada por isso. A língua portuguesa não fica mais ou menos fortalecida por, como fazem todas as grandes línguas de cultura do mundo hoje, usar nomes próprios estrangeiros – seja de pessoas, seja de lugares – em suas grafias originais, com exceção daqueles poucos casos com aportuguesamento tradicional de uso disseminado.

Não apenas a língua não resulta prejudicada, mas as vantagens são evidentes: a invenção, em pleno século XXI, de novas traduções para nomes de lugares representa, como bem notaram os países na ONU, inconvenientes e prejuízos de ordem técnica, financeira e no dia a dia, a viajantes, turistas, estudantes e mesmo ao funcionamento de programas de computador.

No fundo, a obsessão de certos puristas em tudo aportuguesar não é outra coisa que um capricho pessoal, mais que uma real preocupação com a defesa da língua – que não sofre nem sai prejudicada pela incorporação de nomes estrangeiros. Pelo contrário, as línguas mais “vigorosas” do mundo hoje, como o inglês e o francês, incorporam intocados quase todos os nomes estrangeiros, de “Liechtenstein” a “Fukushima”.

E, mais que tudo, essa obsessão aportuguesadora sempre se revelará insuficiente – um trabalho não apenas sem utilidade, mas sem conclusão possível – pois é impossível aportuguesar todos os nomes de todas as localidades, cidades, povoados, rios, estados, províncias, regiões, divisões de todos os países do mundo. Em outras palavras, sempre haverá nomes de localidades traduzidos (como “Alemanha” em vez de Deutschland, “Japão”, etc.) e nomes não traduzidos (como “Washington”, “Miami”, “Buenos Aires”), e aceitar isso é a primeira importante lição que precisa aprender qualquer pessoa que pretenda dedicar-se às ciências toponímicas, ao estudo dos nomes geográficos.

Por mais que se aportuguese, por mais que se inventem milhares de novos aportuguesamentos (insista-se: sem que isso no fim das contas acarrete qualquer utilidade real para os falantes da língua – muito pelo contrário), a verdade é que nunca se sairá da situação que já é a atual: a de coexistência de nomes geográficos aportuguesados com formas estrangeiras usadas sem tradução. Sempre foi assim, é assim em todas as línguas do mundo e sempre assim será. O melhor é aceitar que é assim que as línguas – e o mundo – funcionam, e que assim se está perfeitamente bem.

Puma, no Brasil, chama-se suçuarana, onça-parda, onça-vermelha ou leão-baio

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Um grande felino selvagem como o da foto acima foi encontrado ontem na área urbana de Brasília, e diferentes jornais usaram diferentes nomes para designar o animal. Houve quem criticasse na Internet um jornal que se referiu ao animal como um puma – termo que, segundo muitos, seria uma palavra estrangeira, imperdoável para designar um animal típico da fauna brasileira.

A palavra puma de fato tem origem no quéchua, língua dos índios andinos, mas que, adotada pela língua espanhola, acabou por globalizar-se: é a forma mais usada mesmo em Portugal, por exemplo, e acabou formalizada no nome científico da espécie (Puma concolor).

No Brasil, o nome tradicionalmente mais empregado sempre foi suçuarana, derivado da expressão tupi para “que é da cor do veado“. É de notar que “suçuarana” tem seu primeiro registro escrito em língua portuguesa, segundo Houaiss, já em 1587, nas décadas seguintes ao descobrimento do Brasil; já “puma” tem seus primeiros registros escritos (em inglês e em espanhol) apenas a partir de 1777, e, em português, apenas em 1837.

Outros dois nomes usados no Brasil para se referir à suçuarana são onça-parda ou onça-vermelha (sempre com hífen, porque os nomes de espécies de animais e plantas obrigatoriamente se escrevem com hifens). Os adjetivos referem-se obviamente à cor do pelo do animal, que o diferenciam da maior e mais robusta onça-pintada, normalmente chamada simplesmente onça no Brasil – ou jaguar em Portugal.

Nos estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, por sua vez, a suçuarana é também chamada leão-baio. “Baio” designa a cor entre “o castanho e o amarelo-torrado”. O leão-baio é inclusive a mascote (e o apelido) do Esporte Clube Internacional de Lages.