Myanmar, em português; quem nasce em Myanmar é myanmarense

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Já vimos em texto anterior que o país que antigamente se chamava Birmânia (em inglês, Burma) mudou de nome há alguns anos para Myanmar. A língua oficial de Myanmar é o birmanês, mas nem todos os myanmarenses pertencem à etnia birmanesa.


Pelos motivos que vimos em texto anterior (ver aqui), devemos escrever Myanmar mesmo em português – não há motivo para tentar aportuguesar nomes de países novos (para, por exemplo, tirar dali aquele “y” que incomoda alguns puristas). Em primeiro lugar porque o novo Acordo Ortográfico expressamente recomenda o uso das letras “k”, “w” e “y”, bem como sequências gráficas estranhas ao português (como “nm”), em nomes próprios estrangeiros e em seus derivados. Em segundo lugar porque a “não invenção” de novas traduções para nomes estrangeiros é a recomendação internacional, reiteradamente expressa em resoluções das Nações Unidas, com o aval dos países membros (como Brasil e Portugal).

(O “y” de “Myanmar” soa como o nosso “i” mesmo – tanto em birmanês quanto em português, inglês, etc.; e não como “ai”).

Há, porém, os puristas da língua que, contrariamente às resoluções da ONU sobre nomes geográficos e a despeito do próprio Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (que reintroduziu o k, o w e o y justamente para a escrita, em português, de nomes estrangeiros), querem sempre a todo custo substituir na escrita “y” por “i”, sob a ilusão de que, com essa simples mudança, estariam “aportuguesando” um nome.

Os defensores de uma grafia como Mianmar, porém, revelam certa ignorância, pois não é simplesmente trocando “y” por  “i” que se aportuguesa um nome: a letra “y”, no fim das contas, é até menos estranha a palavras aportuguesadas do que a sequência “-nm-“, que não ocorre em português.

Um eventual aportuguesamento do nome Myanmar teria de substituir também essa sequência consonantal – escrevendo-se “Miãmar”, por exemplo. Já Mianmar é simplesmente um aportuguesamento capenga, feito pela metade.

O governo brasileiro, por sua vez, publicou em janeiro de 2015 decisão em que reconheceu “o Ministério das Relações Exteriores como instituição responsável por pronunciar-se em caráter definitivo sobre as questões envolvendo nomes geográficos de países” – e o Ministério das Relações Exteriores do Brasil usa oficialmente a grafia “Myanmar“.

Myanmar é também a forma usada oficialmente pelo governo de Portugal.

O adjetivo pátrio myanmarense deve também ser escrito com “y”, exatamente como o nome do país. É o que diz também expressamente o novo Acordo Ortográfico, que pôs fim à regra das normas ortográficas anteriores de “aportuguesar” os derivados de nomes próprios estrangeiros. É por essa razão que o que antigamente se escrevia “taiuanês“, por exemplo, agora se escreve taiwanês (quem nasce em Taiwan). Assim, do mesmo modo que, segundo o Acordo, quem nasce no Kuwait é kuwaitiano e quem nasce no Malawi é malawiano, quem nasce em Myanmar só pode ser myanmarense.