“Collant”, em português, se escreve colã

 

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Como chamar a roupa de material aderente ao corpo que se usa em danças, como o balé? Collant ou colã? Collant – em francês. Em português, colã.

Em francês collant significa literalmente “colante”. O nome vem do fato de a roupa “colar-se” ao corpo. Do mesmo modo que não faz mais sentido escrever maillot em português – mas sim maiô -, em português a forma correta, já incluída inclusive no Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa, é colã:

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Besteiras inventadas: alunissar/alunizar, amartizar/amartissar – é melhor pousar ou mesmo aterrizar

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Dos franceses, inventores da atterrissage e do verbo atterrisser, copiamos “aterrissagem” e “aterrissar” – que, como já visto, podem ser substituídos pelas formas aterrizaraterrizagem, que, além de mais ouvidas hoje, são mais condizentes com a formação vocabular portuguesa – ou, melhor ainda, pelas ainda mais tradicionais e simples pousar pouso.

Com a chegada do homem e de satélites nossos a outros astros do sistema solar, os franceses têm ido além, inventando verbos específicos para cada astro – ideia absurda e sem propósito, copiada pelos espanhóis, que, seguindo o erro, decidiram que, “se pousar na Terra é aterrizar, pousar na Lua é alunizar e, em Marte, amartizar“.

Uma absurda ignorância é o que essas invencionices revelam. O radical “-terr-” de aterrizar ou aterrissar não vem do nome do planeta Terra, mas, sim, de terra no sentido de chão, solo, terra firme – por oposição a céu ou mar.

É perfeitamente correto, portanto, dizer “aterrizar em Marte“, ou falar de uma “aterissagem na Lua“.

Outra opção válida, recorde-se, é recorrer ao bom e velho pouso – “pousar em Marte”, “pouso na Lua”, construções também corretíssimas. O que não faz o menor sentido é inventar verbos e substantivos novos para cada astro em que se venha a pousar (ou aterrizar).

“Bruschetta”, em português: brusqueta

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O Google nos dá mais de 120 mil ocorrências, em português, da palavra brusqueta – aperitivo italiano que consiste numa fatia de pão grelhada temperada com alho, azeite, pimenta e que geralmente leva coberturas adicionais como tomate.

Em italiano, escreve-se bruschetta  – a pronúncia, lá como cá, é “brus-ke-ta” – o “ch” em italiano tem sempre o som do nosso “qu“. Nada mais natural, portanto, que o aportuguesamento brusqueta – que, embora ainda ausente dos dicionários, já tem mais uso em português do que boa parte das palavras contidas nos nossos vocabulários.

Em italiano, o plural é bruschette – as palavras terminadas em “a” fazem o plural em “e” em italiano. Com a palavra devidamente aportuguesada, o plural, naturalmente, segue as regras do português: a brusqueta, as brusquetas.

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Xauarma: grafia em português para o prato árabe

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Nos tempos que correm, pratos  outrora regionais vão-se globalizando e ganhando adeptos em todo o mundo. Ocorreu já há muito tempo com a pizza – palavra hoje entendida em qualquer país do mundo; e ocorreu mais recentemente com o sushi e o sashimi, que, assim mesmo, com a grafia da romanização oficial japonesa, entraram nos dicionários de quase todas as línguas do mundo.

Uma língua, porém, é famosa por não ter uma romanização oficial, um sistema único e oficial de ter suas palavras transcritas no 200px-doner_kebap_istanbul_20071026alfabeto latino: o árabe. É isso que leva a que palavras árabes tradicionalmente tenham uma transcrição diferente em cada língua ocidental: o líder árabe que chamamos de xeique ou xeque é um sheik em inglês, um cheikh em francês e um Scheich em alemão; já a lei islâmica é chamada de xaria em português, charia em francês, sharia em inglês e Scharia em alemão.

É uma regra do aportuguesamento de palavras árabes que o som transliterado como “sh” em inglês, como “ch” em francês e como “sch” em alemão seja escrito sempre com “x” em português. Há dezenas de vocábulos vindos do árabe que exemplificam o processo – almoxarifado, enxaqueca, xadrez, xeique, xeque, xerife, xiita…

Assim sendo, o prato tradicional árabe que consiste de carne  (de boi, frango ou carneiro) acompanhada de vegetais, molhos e temperos servida num pão, a que se chama shawarma em inglês, chawarma em francês e Schawarma em alemão, só pode ser, em português, escrita xauarma – como já bem traz o dicionário Estraviz.

Nova palavra nos dicionários: meme

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Teve quem tentou avisar: “Não vire meme, chegue no horário“. Mas o aviso foi em vão – nos jornais já abundam as postagens ao estilo “Atrasados do Enem viram meme nas redes sociais – clique aqui para ver os melhores“.

Com a proliferação de memes – e do uso da palavra – nos tempos que correm, é normal que os dicionários já tenham incorporado a palavra. Como se lê no dicionário Estraviz, um meme é umaImagem, informação ou ideia que se espalha rapidamente através da Internet, correspondendo geralmente à reutilização ou alteração humorística ou satírica de uma imagem“.

Há milhares de exemplos, de todos os países – o meme brasileiro “Nazaré confusa” é um que foi recentemente “exportado”.

A palavra meme já era usada, em inglês, desde antes da popularização da Internet, com o sentido de “ideia ou comportamento que passa de um meio social para outro, geralmente por imitação“, do qual deriva o novo sentido.

Já estando devidamente aportuguesado, o substantivo meme não deve ser escrito em itálico nem precisa de aspas – e, sobretudo, deve ser pronunciado como se escreve, com “e”, e não à inglesa, como fazem uns poucos que pronunciam “mime“.

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Palavras novas: tapiocaria

downloadNa foto acima, uma bela tapioca recheada com carne seca. Alguns dicionários, como os portugueses, só trazem tapioca como a fécula extraída da mandioca; ignoram, portanto, o sentido mais usada correntemente – o de tipo de bolo feito dessa fécula, que se come com diversos acompanhamentos, doces e salgados. Especificamente na Bahia, é chamado de beiju.

E, com a proliferação recente de estabelecimentos especializados em tapiocas por todo o país, popularizou-se também o substantivo tapiocaria – bem formado a partir do sufixo tradicional português para estabelecimentos; o mesmo que se vê em churrascaria, livraria, padaria, pamonharia, papelaria, peixaria, petiscaria, pizzaria, relojoaria, tabacaria

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Xeica é o feminino de xeique ou xeque

sem-tituloO feminino de xeique (ou xeque) é xeica.

Anos atrás, os portugueses noticiavam a visita da sheikha” do Kuwait a Portugal. Corretíssimo o uso do feminino, já que nenhum dicionário admite “xeique” ou “xeque” como substantivo de dois gêneros. O feminino já vem do árabe, e mesmo o inglês, língua que em geral não faz distinção de gênero nos cargos, usa a forma feminina sheikha.

Mas em português, é claro, deve escrever-se xeica – forma usada pela imprensa e pelo governo brasileiro, e perfeita do ponto de vista ortográfico, e que já consta do Dicionário Houaiss:

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O significado de “tabajara”

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Da série de palavras (e sentidos) que ainda  não estão nos dicionários – mas já deveriam estar: o ex-presidente do Poder Judiciário brasileiro manifestou hoje sua percepção de que a destituição de Dilma Rousseff foi um processo “tabajara”.

Alguém que desconhecesse o adjetivo por ele usado e fosse aos dicionários tradicionais ficaria na mesma: os dicionários brasileiros, como o Aulete, dizem apenas que “tabajara” é uma tribo indígena. O Houaiss diz quase o mesmo, mas dando informação errada sobre a localização da tribo (“grupo indígena que habita o município de Viçosa CE“). O Michaelis consegue a mesma proeza que o Houaiss: dar uma única informação sobre a tribo (a sua localização), e ainda dá-la errada: “Indígena dos tabajaras, povo que habita a cidade de Amarante (MA)“. Obviamente, a tribo não habita uma única cidade (e sequer existente uma cidade chamada simplesmente “Amarante” no Maranhão, ou uma cidade chamada simplesmente “Viçosa” no Ceará). O português Priberam, por sua vez, sequer registra o termo.

De todos modos, não foi o ex-presidente do Supremo Tribunal politicamente incorreto – não quis ele associar a destituição presidencial a índios. A palavra “tabajara” foi usada, isso sim, no sentido que tem no Brasil modernamente – que encontra amparo no Dicionário Informal:  algo tabajara é algo “falsificado“, “inferior ao original” ou, simplesmente, “de baixa qualidade“.

A acepção usada por Joaquim Barbosa faz referência, é claro, às fictícias Organizações Tabajara, do extinto humorístico Casseta & Planeta, que eram famosas por seus produtos de duvidosas utilidade ou qualidade. O fato é que tamanha era a popularidade do programa no início do século que até hoje o adjetivo “tabajara” é usado com esse sentido pejorativo – apenas neste ano, por exemplo, foi a mesma palavra usada por outro ministro do Supremo Tribunal para se referir a outro processo na Câmara dos Deputados e pela ex-ministra da Cultura para se referir ao governo de Dilma Rousseff. Até o termo de posse ministerial enviado por Dilma a Lula foi tachado de “tabajara“.

Já está mais do que na hora, portanto, de essa acepção de tabajara aparecer recolhida em nossos dicionários.

Em português, “burquíni”, não “burkini”

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O traje de banho cujo nome mistura burca com biquíni fez notícias nos últimos dias, com a polêmica de sua proibição em praias francesas. Os veículos de comunicação que usaram a palavra, porém, dividem-se em dois grupos: aqueles que, como sói ocorrer, limitaram-se a copiar e colar a grafia tirada das notícias em inglês – burkini – e aqueles poucos que sabem que uma palavra não precisa estar nos dicionários para ter uma grafia correta em português – que, neste caso, só pode ser burquíni, com “qu” e com acento agudo.

Burquíni” precisa de acento pela mesma razão que “biquíni“: porque é uma regra de acentuação que as palavras paroxítonas terminadas em “i” precisam de acento – como também são o caso de táximartínicáqui (a cor), etc. Isso para diferenciá-las das palavras oxítonas terminadas em “i”, que, em português, não levam acento: aquialicaqui (o fruto), daiquiri, tupiguarani, Sacivivicomibebidesapareci.

Sororidade: a solidariedade entre mulheres

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A grande vantagem do Dicionário Priberam sobre todos os demais dicionários da língua portuguesa (além de ser grátis e estar disponível on-line) é que é o único que é atualizado diariamente (e por linguistas profissionais, o que não é o caso de todas as editoras). E por que isso faz diferença? Porque é o único bom dicionário de português, hoje, que responde rapidamente não apenas à criação de palavras novas, mas também à rápida popularização de certas palavras e conceitos, tão comum nos tempos que correm.

Nenhum dos gigantes dicionários brasileiros, por exemplo, registra sororidade – palavra que o Priberam define, breve porém suficientemente:

so·ro·ri·da·de
(latim soror, -oris, irmã + -dade)
substantivo feminino

1. Relação de união, de afeição ou de amizade entre mulheres, semelhante à que idealmente haveria entre irmãs.

2. União de mulheres com o mesmo fim, geralmente de cariz feminista.

“sororidade”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/sororidade [consultado em 26-04-2016].
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