“Quitar o carro”: uma expressão corriqueira que põe em evidência o oceano que separa o português do Brasil do português lusitano.
No Brasil, quitar o carro significa pagar de uma vez todas as prestações remanescentes; em outras palavras, quitar um carro (ou um apartamento, etc.), no Brasil, significa pagá-lo.
Já em Portugal, como ensinam o Priberam e a Porto Editora, quitar significa “alterar ou melhorar as características originais (de um veículo ou aparelho)”.
A definição lusitana de quitar (um carro ou eletrônico) é, portanto, equivalente do neologismo brasileiro tunar, que os dicionários brasileiros definem como “praticar alterações mecânicas e/ou estéticas e/ou introduzir alterações e aprimoramentos, com o fito de personalizar ou melhorar o aspecto, desempenho, etc.” de um veículo ou eletrônico.
No Brasil, assim, são chamados carros tunados aqueles que sofrem intervenções mecânicas, eletrônicas ou estéticas (processo chamado, em inglês, tuning), como o rebaixamento da suspensão e a troca de peças e itens – o que em Portugal qualificaria os chamados carros quitados.
E, do mesmo modo que, no Brasil, quitar só mantém seus sentidos originais (como o de livrar-se de uma dívida), em Portugal tunar só conserva o sentido original da palavra, também registrado em dicionários brasileiros: “andar à toa; vadiar”.