“Ano Novo” nunca teve hífen, nem precisa ter

Untitled.png

Como em todas as demais línguas, “Ano Novo” em português não precisa de hífen.

Em português, “ano novo” nunca teve hífen. Em Portugal e nos demais países de língua portuguesa, sempre se escreve assim, sem hifens. Pelas regras ortográficas (ver abaixo), realmente não há motivo para que “ano novo” tenha hífen.

No Brasil, porém, o Aurélio, por lapso, trouxe “ano-novo” como uma expressão com hífen, e os demais dicionários – que, como frequentemente vemos aqui, se copiam uns aos outros, em geral reproduzindo erros – fizeram o que tantas vezes fazem: repetiram o erro.

Já tratamos também da “mania hifenizadora” de certos brasileiros. Mas, como já vimos aqui, existe uma regra básica para o uso do hífen: o de que ele é usado quando é necessário para a compreensão; o hífen não aparece de brinde nem de enfeite.

Uma regra de ouro para o uso do hífen, que funciona na maioria dos casos, é muito mais simples que as mil regrinhas que alguns tentam decorar: se o hífen não faz nenhuma falta, não se usa. E, na língua portuguesa, em geral não é necessário usar hifens para ligar um substantivo a um adjetivo que o qualifique. É por isso que “bom senso” não tem hífen; que “assembleia geral” não tem hífen; que “senso comum” não tem hífen; assim como “gripe aviária”, “segundo esposo”, “bom dia”, etc. – e qualquer outro par normal formado por substantivo mais adjetivo em seus sentidos comuns.

É também por isso que “Ano Novo” nunca levou hífen.

O fato de o Vocabulário da Academia Brasileira de Letras trazer “ano-novo” com hífen só engana os descuidados: o Vocabulário também traz “bom-dia”, com hífen – e não traz “bom dia” sem hífen. Logo – concluiriam uns -, o certo é escrever “Olá, bom-dia!”? Não, não é. “Bom-dia”, tudo junto, é uma palavra, raramente usada, que significa “o cumprimento pelo qual se deseja a alguém um bom dia”. Mas o Vocabulário não registra “bom dia” sem hífen – porque os Vocabulários só trazem as palavras, separadamente, e nesse caso são duas palavras: “bom” e “dia”.

É o mesmo que ocorre com “livre comércio”, que se escreve sem hífen, mas algumas pessoas erram e acham que deve levar hífen porque o VOLP registra a palavra “livre-comércio” – essa palavra composta, porém, é o que o dicionário Aurélio define como “a teoria que estuda o livre comércio”.

É também, como já vimos, o mesmo que ocorre com “contas-correntes”, que o Aurélio define muito bem como um tipo desusado de livro “onde se registravam as movimentações das contas correntes” de um banco. O fato de existir o antiquado “contas-correntes” não quer dizer que toda conta corrente leva hífen – não leva.

Da mesma forma, Ano Novo – em frases como “Feliz Ano Novo!” – nunca levou hífen em português, nem deve levar. No excelente dicionário da Academia Brasileira de Letras nunca existiu a palavra – nem nos grandes dicionários de Caldas Aulete, nem no Michaelis tradicional, etc. Foi só o Aurélio registrar um “ano-novo” com hífen, retirado de um romance, que os demais dicionários brasileiros copiaram sem nenhum senso crítico a gafe.

Nenhum dicionário de Portugal ou de nenhum dos demais países que falam português escreve “ano-novo”. No novo Vocabulário Ortográfico Comum da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, só existem “ano” e “novo”, e muito bem. Nada de “ano-novo”, que agora alguns dicionários brasileiros tentam dizer que tem sentido diferente de “ano novo” sem hífen. Segundo quem defende a diferença, uma coisa seria a festa realizada na noite do 31 de dezembro – nesse caso se usaria hífen; já “ano novo” sem hífen seria literalmente o novo ano que começa.

Essa suposta necessidade de diferenciação na verdade não existe – quem a defende ignora outra regra básica da ortografia portuguesa: que, como manda o novo Acordo Ortográfico, todas as festas e festividades levam inicial maiúscula.

Portanto, o único argumento que havia para a existência de “ano-novo” com hífen – a suposta necessidade de diferenciar a festividade de um literal novo ano – foi enterrada com o novo Acordo Ortográfico, que marca obrigatoriamente essa diferença pelo uso de maiúscula: Ano Novo é a festividade, enquanto ano novo, sem maiúsculas, é o novo ano literal.

Um comentário sobre ““Ano Novo” nunca teve hífen, nem precisa ter

Deixe um comentário