Ganhou espaço na imprensa brasileira nos últimos dias o caso de um jovem médico que ridicularizou paciente que se queixara de uma suspeita de “peleumonia“. “Não existe peleumonia“, afirmou o médico, com base em que, de fato, “peleumonia” não está no dicionário. A ironia, porém, é que a classe médica brasileira sabidamente usa aos montes , diariamente, palavras que não estão nos dicionários – como “catéter“, palavra usada diariamente por médicos de todas as regiões do país; para o Aurélio (e para o Houaiss, o Michaelis, o Aulete, o Vocabulário Ortográfico da Academia Brasileira de Letras, etc.) só existe cateter, palavra oxítona.
Qualquer que seja, portanto, o critério para definir se uma palavra existe (se seu uso no dia a dia, ou sua presença em dicionários), “peleumonia” existe (ou não) tanto quanto “catéter“. Então por que os mesmos médicos que zombam de quem usa aquela não tem vergonha de usar “catéter“? Pura hipocrisia linguística.
Diariamente se vê muito desse tipo de hipocrisia, que dá tratamento diferente a erros de português baseando-se não no erro em si, mas no meio em que se ouvem – é a diferenciação entre “erros de pobre” e “erro de rico”. Mas, erro por erro, o paroxítono catéter, queridinho dos médicos brasileiros, é tão errado (ou tão correto, a depender do nível de permissividade linguística) quanto “peleumonia“.
Texto interessante sobre cateter/catéter: http://www.jmrezende.com.br/cateter.htm
Como aqui se fazem frequentes menções ao espanhol, note-se que em espanhol é paroxítona: http://dle.rae.es/?id=7xDXeGo
Este dicionário italiano http://www.treccani.it/vocabolario/catetere/ afirma que catetére é mais correto, mas menos comum que catétere (acentos gráficos usados apenas para fins de prosódia).
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Excelente pesquisa, Luciano. Parece (e estou há meses juntando mais informações sobre a história de cateter/catéter na língua) que, no fim das contas, catéter tem todas as justificativas para estar nos dicionários, que erram ao não trazê-lo.
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Ótimo texto sobre preconceito e hipocrisia da nossa sociedade.
Cômico eu ter chegado aqui como advogado pesquisando a grafia de “cateter” para apresentar uma defesa em processo de erro médico!
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Acho muito bom corrigir um erro de linguagem, desde seja feito com gentileza. Já fui corrigida e não me ofendi. Simplesmente fui pesquisar e mudei quando estive errada. Não tem vergonha, não tem maldade, não tem importância. Ninguém nasce sabendo, se não aceitarmos a correção vamos morrer falando errado.
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