“Peleumonia” x “catéter”: erro de pobre, erro de rico

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Ganhou espaço na imprensa brasileira nos últimos dias o caso de um jovem médico que ridicularizou paciente que se queixara de uma suspeita de “peleumonia“. “Não existe peleumonia“, afirmou o médico, com base em que, de fato, “peleumonia” não está no dicionário. A ironia, porém, é que a classe médica brasileira sabidamente usa aos montes , diariamente, palavras que não estão nos dicionários – como “catéter“, palavra usada diariamente por médicos de todas as regiões do país; para o Aurélio (e para o Houaiss, o Michaelis, o Aulete, o Vocabulário Ortográfico da Academia Brasileira de Letras, etc.) só existe cateter, palavra oxítona.

Qualquer que seja, portanto, o critério para definir se uma palavra existe (se seu uso no dia a dia, ou sua presença em dicionários), “peleumonia” existe (ou não) tanto quanto “catéter“. Então por que os mesmos médicos que zombam de quem usa aquela não tem vergonha de usar “catéter“? Pura hipocrisia linguística.

Diariamente se vê muito desse tipo de hipocrisia, que dá tratamento diferente a erros de português baseando-se não no erro em si, mas no meio em que se ouvem – é a diferenciação entre “erros de pobre” e “erro de rico”. Mas, erro por erro, o paroxítono catéter, queridinho dos médicos brasileiros, é tão errado (ou tão correto, a depender do nível de permissividade linguística) quanto “peleumonia“.