O lhama ou a lhama, um lhama ou uma lhama?

llamaO animal da foto ao lado é um lhama ou uma lhama? Diz-se em português o lhama ou a lhama? Contrariando o que dizem alguns manuais ultrapassados, a resposta é: tanto faz; todos os bons dicionários, gramáticas e vocabulários brasileiros afirmam que o nome desse animal andino pode ser feminino ou masculino: uma lhama ou um lhama – ambas as formas são absolutamente corretas.

Como já argumentamos aqui, desconfie de qualquer livro, apostila ou professor que “ensine” regrinhas como a de que “está errado falar tinha aceito, o certo é tinha aceitado” – em resumo, regrinhas que não existem em nenhuma gramática séria, tendo sido “inventadas” por leituras apressadas e interpretações equivocadas, mas que acabaram se disseminando entre “comerciantes” de cursinhos.

Outra dessas “regrinhas” descabidas que circula por aí (e que tem, ao menos, uma serventia: serve para identificar livros ruins – ou, no mínimo, ultrapassados) é a de que algumas palavras que todos os bons dicionários brasileiros registram como sendo de dois gêneros só podem, pela “tradição da língua”, pertencer a um gênero. É o caso das coitadas das lhamas – que alguns puristas insistem em chamar de “os lhamas”.

Tal imposição de regras, porém, não tem qualquer fundamento: bem é verdade que os portugueses usem sobretudo o artigo masculino para chamar o animal – mas os portugueses sequer usam o nome “lhama”; em Portugal, a forma mais usual é “o lama“, sem o “h”. Em espanhol, diz-se  una llama, no feminino. O uso feminino, quase absoluto no Brasil, justifica-se ainda pela predileção natural da língua por atribuir o gênero feminino a palavra terminadas em “a”; e possivelmente por também serem femininos os nomes de duas das três espécies de mamíferos andinos “aparentadas” com a lhama: a vicunha e a alpaca (a quarta espécie, e a única cujo nome é masculino em espanhol, é o guanaco).

O Dicionário Aurélio, o Houaiss, o Aulete e o Vocabulário Ortográfico da Academia Brasileira de Letras (o VOLP) registram, todos, lhama como substantivo que pode ser invariavelmente masculino ou feminino.

O professor Evanildo Bechara, da Academia Brasileira de Letras, ensina em sua “Moderna Gramática Portuguesa” que há vários substantivos que podem ser usados indistintamente como masculinos ou femininos: além de a lhama ou o lhama, pode-se dizer também: o avestruz ou a avestruz; o caudal ou a caudal; o componente ou a componente; a diabetes ou o diabetes; o gambá ou a gambá; o soprano ou a soprano; o tapa ou a tapa (um tapa ou uma tapa, um tapinha ou uma tapinha – ver aqui)o personagem ou a personagem; o sabiá ou a sabiá; o sentinela ou a sentinela. Além de o aracuã ou a aracuã (ou “araquã”), sobre o qual já escrevemos aqui no blogue.