O feminino de membro é membra: a membra, as membras

Na contracapa de um livro de Direito Penal da Editora Saraiva, diz-se que a autora é “membra” do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais. Membra está certo? Existe mesmo a palavra membra?

Sim, existe em português a palavra membra. A palavra membra está devidamente registrada no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP) da Academia Brasileira de Letras (quem quiser, pode clicar aqui para conferir) e também no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (fotos a seguir):

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Houaiss define membro apenas como substantivo masculino, e traz, como feminino de membro, a palavra membra. Além disso, o Dicionário Houaiss traz também a palavra membra – substantivo feminino – com definição própria, como “mulher que participa de um grupo ou organização”, e afirma que a palavra já tinha uso em textos e livros portugueses publicados no século retrasado.

Hoje, a palavra “membra”, outrora “pouco usada”, ganha cada vez mais espaço: o recente “Dicionário de formas de tratamento – Guia para o uso das formas de tratamento do português em correspondência formal“, por exemplo, recomenda expressamente que, ao se dirigir a membros da Academia Brasileira de Letras ou da Academia Brasileira de Ciências, a forma correta de tratamento formal a ser utilizada é “Senhor Membro”, apenas para homens; e “Senhora Membra” para as mulheres que integram as referidas Academias.

O feminino membra também aparece em todas as nossas principais editoras e veículos de imprensa: por exemplo, n’O Globo: “…a doutora, membra da Sociedade Brasileira de Dermatologia.; na Revista Veja: “A comentarista independente Anne Gombel, professora francesa e membra da Sociedade Internacional da Menopausa…; no Estado de S. Paulo: “Guga também participou das homenagens a Jennifer Capriati, também nova membra do Hall da Fama“.

Também usam membra, entre outros, jornais e revistas como o Correio Braziliense, O Tempo, Revista Globo Rural, Revista Marie Claire, G1.com (Portal de Notícias da Globo), Revista GalileuRevista CriativaGazetaElPaísRevista Rolling Stone, Revista Leitura, etc.

Numerosos livros também trazem, exatamente como a obra que motivou a pergunta com que iniciamos este texto, a informação de que sua autora é membra de uma ou mais organizações relevantes para o tema tratado – não apenas no Brasil, mas também em Portugal: uma das autoras do Código do IVA e RITI descreve-se como “Doutora pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e membra do VAT Expert Group da União Europeia.”

A palavra membra também ocorre em outras publicações de Portugal, Angola e Moçambique.

Há ainda ocorrências de menções a “deputada membra do parlamento sueco“, ou a que “a Dinamarca é membra da União Europeia“, ou a que “a Caixa Econômica Federal é instituição membra da Administração Pública”, ou a que (neste caso há milhares de ocorrências) uma mulher é membra de uma igreja ou de uma congregação.

Encontramos ainda a palavra em publicações da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ (“…é membra efetiva da Academia Brasileira de Letras (ABL)” e da Universidade de São Paulo – USP (“Membra da Academia Brasileira de Letras, foi eleita em 27 de julho de 1989, na sucessão de Aurélio Buarque de Holanda…”), bem como na Revista Acadêmica da Faculdade de Ciências do Recife.

Tudo isso – ainda que já não estivesse a palavra membra devidamente registrada no Vocabulário da Academia Brasileira de Letras e no Dicionário Houaiss – seria já suficiente para declarar que, obviamente, estará errado qualquer um que, em 2015, afirme que “não existe a palavra membra”.