Festa julina, julhina ou junina? Existe a palavra “julina”?

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Uma festa do tipo junina que ocorra no mês de julho pode, corretamente, ser chamada julina. “Julina” é o feminino de “julino“, que por sua vez significa “relativo ao mês de julho“.

A grafia “julhina” é errada, pois o radical erudito (usado na formação de palavras) de “julho” é “jul-“, e não “julh-“; do mesmo modo que o adjetivo referente a junho é “junino”, e não “junhino.

Há quem afirme, porém, que a palavra “julina” não pode ser usada, não existe ou é incorreta, por supostamente não vir em dicionários ou no VOLP (o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa) da Academia Brasileira de Letras. Quem diz isso revela não entender como a língua, os dicionários e o VOLP funcionam.

Nenhum dicionário ou vocabulário contém nem pretende conter todas as palavras de uma língua; pelo contrário, a maioria das palavras corretas de uma língua não vem no dicionário.

O dicionário em papel à venda hoje que traz o maior número de palavras é o “Aurelião”, a versão completa do dicionário Aurélio; na introdução, porém, assinada pelo próprio autor em vida, Aurélio Buarque de Hollanda deixa claro que, em relação ao tamanho total da língua, seu dicionário é “inframédio” – isto é, contém menos da metade das palavras corretas existentes.

Por limitações de espaço, há centenas de milhares de palavras corretas que não entram no dicionário. Mesmo não pretendendo recolher todas as palavras de uma língua, as equipes que trabalham em dicionários recolhem semanalmente palavras novas, tiradas da imprensa, de textos (mesmo de redes sociais) ou ouvidas dos falantes.

As palavras mais usadas acabam sendo recolhidas pelos dicionários, e apenas depois de entrar no dicionário, uma palavra segue para vocabulários. Na elaboração da última edição do VOLP, por exemplo, anos atrás, a Academia Brasileira de Letras pediu ao Aurélio e ao Houaiss listas com as milhares de palavras que vinham nos dicionários mas faltavam no VOLP.

Dizer que uma palavra não é correta ou não deva ser usada por não estar nos dicionários ou no VOLP é, portanto, completamente errado, pois há um número imensurável de palavras portuguesas corretas não recolhidas em dicionários, e é justamente apenas após ser usada em contextos reais, sobretudo em meios escritos, que uma palavra poderá  vir a ser recolhida pelos dicionários, e eventualmente, depois dos dicionários, pelo VOLP.

Pode até ser que a palavra, com uma frequência relativamente baixa, nunca chegue a entrar nos dicionários, mas não por isso ela será incorreta ou deverá ser evitada: se a palavra foi formada corretamente, de acordo com os processos de formação de palavras da gramática portuguesa – e é esse o caso de “julina” -, a palavra é correta e pode ser usada.

É perfeitamente correto, frise-se, usar palavras que não estão nos dicionários.

Ainda assim, para provar de vez que estava errado quem defendia que a palavra “julina” estava errada, convém notar que o dicionário Houaiss acaba de incluir a palavra julino na sua versão na Internet:

Houaiss

E existirá adjetivo referente a “agosto”? A “setembro”, “outubro”? Sim. Como se acaba de explicar, por terem uma frequência de uso muito menor que “junino” e “julino”, estas palavras não devem entrar nos dicionários – mas é perfeitamente correto usar termos como “agostino”, “setembrino”, “outubrino”, “novembrino” e “dezembrino”, que têm relativo uso e que seguem o mesmo processo correto de formação vocabular que nos deu “junino” e “julhino”.

12 comentários sobre “Festa julina, julhina ou junina? Existe a palavra “julina”?

  1. Bom dia.
    Creio que este tópico, salvo melhor juízo, possa ter sido criado em resposta a uma pegunta feita por este leitor que aqui escreve. Desde já, agradeço-lhes a atenção.
    Entretanto, o intento da pergunta era saber a opinião dos administradores sobre a necessidade ou não de se mudar o adjetivo “junina” para “julina” ou “agostina”, por exemplo, apenas pelo fato de as tradicionais festas de São João serem realizadas fora do mês de junho?
    Obrigado e um abraço.

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    • Entendo que a noção de erro ou acerto na língua está sobretudo ligada à aceitação ou não de uma forma entre os falantes; eu próprio não descarto que o “junina” tenha vindo de “joanina”, em referência a “festa de São João”, mas, na medida em que os falantes cultos (assim como a totalidade dos dicionários) entendem hoje que o “junina” da festa significa apenas “relativo ao mês de junho”, será esperado que falar de uma festa junina em julho não soará bem aos ouvidos dos demais. Na medida em que existe a palavra “julina” para isso, eu, pessoalmente, diria “festa julina”.

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      • Contudo, o adjetivo junino não está relacionado somente com o mês de junho, mas também com as festas de Santo Antônio de Lisboa, São João Batista, São Pedro e São Paulo, realizadas preferencialmente neste mês.

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      • Acho que ambas as formas são aceitáveis, porque ambas podem soar igualmente normais ou igualmente estranhas, a depender de como se interpretem.
        Às festas juninas associam-se determinados pratos, músicas e danças típicos, donde quem fizer tal associação poderá dizer que uma festa realizada em tais moldes, ainda que em julho e até em agosto (como há em Brasília) é, não obstante, uma festa junina.
        Já quem se referir a tais festas como juninas porque ocorridas em junho chamará julinas e agostinas àquelas que ocorrerem em julho e agosto.
        Como noutros casos, penso que seja o costume o parâmetro que decide o que soa bem ou mal neste ou naquele lugar. Para mim, é indiferente, porque sei que quem diz festa julina ou festa agostina se está referindo a festas no molde das juninas, ocorridas fora de época.

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  2. Entendo que festa joanina seja exclusiva da festa da véspera e do dia de S. João, enquanto que festas juninas sejam todas as festas do mês de junho, incluindo Santo Antônio e São Pedro. Outras festas, no mês de julho, como a de Santana, são festas Julinas. E vejam, o português, vindo do inglês, que é responsável pela tradução nos computadores, não aceitou o termo e o sublinhou com linha vermelha.

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